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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

NICs - Negócios Intensivos em Conhecimento

Normalmente abreviados como KIBs (Knowledge Intensives Businesses) os negócios intensivos em conhecimento (NICs) diferenciam-se de outros setores. Mas como? Em quê? Quanto? Isso realmente existe como categoria à parte ou é mais um modismo?
Há muita divergência ainda a respeito do tema, visto que todo negócio, desde sempre, fez uso do conhecimento. Não somente no setor terciário da economia -comércio e serviços- isso é verdadeiro, mas inclusive nos setores secundário -indústria de transformação- e primário -agropecuária e extrativismo. Então, onde estaria a novidade?
A tal economia do conhecimento normalmente é relacionada com a revolução da tecnologia da informação. No entanto, precisamos admitir que informação não é sinônimo de conhecimento. Muito menos dados são sinônimos de conhecimento. Assim, aonde está a evidência de que existe um segmento que podemos denominar de "intensivo em conhecimento"?
A OECD tem realizado estudos e publicado alguns artigos sobre a economia e os setores intensivos em conhecimento e ela mesma, pela autoria de seus consultores e pesquisadores, considera difusa a definição. O conceito de negócio intensivo em conhecimento muitas vezes carece de precisão, de limites. Outras vezes fica reduzido em critérios por demais específicos, como aquele dos gastos com pesquisa e desenvolvimento (P&D). Por exemplo, uma indústria farmacêutica gasta muitíssimo mais em P&D do que um escritório de advocacia... Mas quem poderia negar que os advogados trabalham, proporcionalmente, mais com conhecimento do que uma indústria farmacêutica?
Daí que meu critério para definir os NICs é mais empírico: todo negócio que se baseia fundamentalmente em conhecimento, isto é, aonde o que se vende é intangível; o que se apropria e absorve também; e o que se utiliza durante o processo de trabalho igualmente é. Conhecimento no início, no meio e no fim.
Dentro deste critério, advogados, arquitetos, engenheiros, consultores, entre outros serviços profissionais tornam-se os melhores candidatos a integrar esse segmento "novo". Mas o que há de novo aí? Afinal, essas profissões são bem tradicionais. Ora, e o conhecimento não seria algo bem tradicional?!
A novidade então está em reconhecer os NICs como uma categoria cujos atributos e necessidades diferem daqueles negócios intensivos em mão-de-obra ou intensivos em capital. Não é o mesmo gerir um escritório que gerir uma fábrica.
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Uma coisa é fazer uso de conhecimento, outra é vender conhecimento. Uma coisa é ter conhecimento para fazer um trabalho, outra é trabalhar com o conhecimento. Uma coisa é adquirir conhecimento para ter uma profissão, outra é ser um profissional do conhecimento. Sim, nós existimos.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

2016

É comum falarem que temos de ir atrás do futuro que desejamos. Mas o futuro não deve ser perseguido. Na verdade, não precisa. Ele está sempre vindo. O dia de amanhã inexoravelmente se tornará o dia de hoje. É só questão de tempo.
Deste modo, a melhor maneira de lidar com o futuro é modificando o paradigma de que temos de correr atrás dele e assumir que o que nos acontece é fruto do que fazemos hoje, aqui e agora. Existe uma linha invisível que liga as imagens do futuro com as ações do presente. Cada ato presente, modifica as imagens possíveis da tela do futuro. Cada modificação do comportamento atual, amplia ou restringe o campo de possibilidades do amanhã. É como na física quântica. O sujeito afeta o objeto, a onda colapsa em partícula.
Para 2016, posso garantir que acontecerá o que tem sido cultivado no dia-a-dia. Assim, o modo mais estratégico de planejar o próximo ano é concentrar-se nos sonhos. E comprometer-se, de verdade. Assumir uma atitude interior de total determinação, sem espaço para dúvidas e hesitação. Quais ações, disciplinas, hábitos, rotinas etc. devem ser mantidas para que os sonhos possam se realizar são derivações naturais disso. Em havendo comprometimento, os nossos pensamentos, sentimentos e ações alinham-se naturalmente.
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Não precisamos correr atrás do futuro. Ele está sempre vindo. Qual futuro virá, depende do que fazemos no presente. Nem precisa de explicações quânticas. É empírico. Cada um recebe aquilo que cultiva.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

À distância

Estive em Santiago do Chile nestes dias. Uma cidade organizada, bonita, com algumas ruas arborizadas que lembram Porto Alegre (mas com um clima seco, bem diferente da capital gaúcha). Museus, boas opções de restaurantes e bares, praças, um movimentado mercado central e a trilha sonora do castelhano falado pelos chilenos. E, claro, os picos da Cordilheira dos Andes... Pude ver a beleza daqueles picos ainda nevados, apesar do verão, observando à distância a capital do país.
Num exercício de reflexão imaginei como a humanidade seria observada por deuses misteriosos que acompanham nosso trajeto pela história. Como se do alto daquelas montanhas, no seu branco puro, um olhar invisível perscrutasse não só os movimentos dos nossos corpos, mas a vibração das nossas almas. Imaginei-me sendo observado, constantemente supervisionado. Sem possibilidade de me esconder.
Há muitas versões do mistério... Não importa a palavra. Se Deus ou Deuses ou o Aleatório ou a Entropia ou qualquer outra crença. São nomes e crenças. O que não é crença, todavia, é a intuição que todo indivíduo tem de "Algo" por detrás do visível. Dizem uns modernos pesquisadores - Mircea Eliade, Ernest Cassirer, Gilbert Durant, Joseph Campbell, Carl Jung, Fernando Schwartz, entre outros - que o que nos diferencia dos animais é justamente essa possibilidade de imaginar o que não está presente, o simbólico, o mítico, o sagrado. (Parece-me que os ateus são só resultado de pouca cultura).
Um bom líder precisa também compreender que a natureza humana tem dessas coisas. Todos os nossos liderados são gente assim. Uns mais crentes, outros mais duvidosos. Uns usando um nome (Deus?), outros usando outro nome (Causação Descendente?). Todos, porém, com sua própria concepção do mistério.
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À distância, como aqueles picos nevados da Cordilheira dos Andes, podemos imaginar o que os deuses veem em nossos corações. Sem mentiras. Sem poder se esconder.
E o que veem? Coisas boas ou ruins? Justiças ou injustiças? Boa vontade ou malícia? Pois nós também podemos ver dentro da nossa própria alma. À uma justa distância, somos capazes, também, de perscrutar o mistério.


segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Liderança 2050

Há poucos dias recebi um livro da Internationa Leadership Association, à qual sou filiado, com o título Leadership 2050. Excelente publicação organizada por Matthew Sowcik. Ainda não o li, mas a ideia geral que permeia os artigos dos trinta autores (executivos, consultores, pesquisadores) é de qual será o contexto e os desafios para a liderança na década de cinquenta. Interessante.
Se considerarmos a geopolítica internacional com suas tensões "neo-guerra-fria" somadas ao terrorismo e à crise financeira, o que se espera politicamente falando não é nada fácil.
Se considerarmos o interesse dos jovens por estudar, aprender, desenvolver suas virtudes, ganhar moral e fortalecer o caráter, vemos que possivelmente teremos carência de material humano para uma nova cultura.
Se considerarmos que, apesar da onda new age, do pseudo-esoterismo, do uso de drogas, ainda somos uma sociedade bem materialista, consumista e "do espetáculo", o risco de se bestializarem as relações entre as pessoas é grave.
Se considerarmos o binômio autoritarismo-anarquia como ação-reação de uma geração rebelde que não confia em ninguém, onde estará o contrato social? Hobbes, poderá explicar?
Se considerarmos tudo isso... o desafio para os líderes de 2050 será enorme. Que podemos fazer nós, aqui e agora? Nossa responsabilidade é a de formar as novas gerações. Nossos filhos, alunos, sobrinhos, pupilos etc. Eles precisam de nosso exemplo, sobretudo, para sonhar algo diferente. Neste sentido, nosso desafio atual pode ser tão grande quanto esse do futuro. Afinal, foi o sonho passado que nos trouxe até aqui.
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Para 2050 espera-se muitas dificuldades. O sonho precede os acontecimentos. É o sonho que governa. Mas hoje há muita dificuldade em sonhar.
Nós precisamos conseguir sonhar um mundo mais humano. Você consegue?

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Meu medo

Meu maior medo sempre foi o de ser medíocre. Não me refiro à palavra no seu uso pejorativo -o que seria ainda mais apavorante- e sim no seu sentido stricto, isto é: estar na média, ser comum. O medíocre é aquele que não se destaca, que é morno, sem sal. É mais um no meio da multidão.
Interessante a indicação de Ortega y Gasset quando se refere ao fenômeno das multidões. Diz ele ser um fenômeno "visual". Ou seja, é empírico, é só andar no mundo e ver a que ponto chegou a massificação.
O homem-massa de Ortega é das melhores descrições que vi sobre os problemas do mundo atual. Parece que a cultura (ou anti-cultura?) contemporânea massificou ainda mais as pessoas. A falta de indivíduos, de homens autênticos, preocuparia Sócrates se vivesse hoje, pois teria de lidar com milhares que vivem sua vida sem exame.
Lembro-me também da magistral obra de José Ingenieros* que recomendo para todo mundo que não se identifica com a média.
Matematicamente a média é cálculo perigoso, pois não dá muitas informações sobre a população em estudo. É um dado limitado. Mas serve aqui para delinear aqueles que não querem se incomodar. Já viu este comentário alguma vez? "É que não quero me incomodar..." É uma das frases mais medíocres que já escutei.
Como qualificar a média? Acho que com três predicados é suficiente:
- Comum, este sim, no sentido bem pejorativo. Sem diferenciais. Sem identidade clara.
- Vulgar. Carente de honra e nobreza. Percebe-se no linguajar, nos modos e nos hábitos (e na música que se escuta).
- Egoísta. Só consegue se ocupar das suas coisas, no máximo das pessoas muito próximas. Não vê o mundo como algo muito maior do que o seu entorno.
Seria muito ousado pedir uma atitude épica contra a mediocridade? Que tal possamos ser mais originais, nobres e altruístas?
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Em tempo: este pedido é para quem está acima da média, ok? Os demais, por favor, não se ofendam. Não quis incomodar...
*El hombre mediocre. Leia o primeiro parágrafo e não vai poder evitar de ler o livro todo.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Cartas a Lucca

Decidi escrever para meu sobrinho e afiliado. Inspirei-me nas cartas de Sêneca a Lucílio, de Aristóteles a Nicômaco, nas próprias cartas de Platão aos seus discípulos e amigos, entre tantas outras correspondências filosóficas.
Sim, além dos negócios eu estimo muito as crianças, futuro do mundo. E acho que a filosofia (amor e busca da sabedoria) pode servir para ajudá-las a começar a viver. Ao menos ajudou a mim mesmo, quando no início da adolescência eu perseguia a Sabedoria dos grandes mestres de oriente e ocidente nos sebos de Porto Alegre.
Quem sabe esses posts (nova forma das epístolas) possam incentivar muitos outros jovens a descobrir, não só nos livros, mas dentro de si mesmo a melhor maneira de viver. Aí a filosofia se converte em arte, uma arte capaz de produzir a mais bela e potente obra prima: nossa própria biografia.
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Lucca, a quem é endereçada cada carta, é meu querido afiliado, filho de minha maninha. Mas é também cada criança querida pelos seus pais, padrinhos, tios e avós. Assim, se essas cartas forem compartilhadas para a educação de outras crianças, nós, o Lucca e eu, vamos nos sentir amigos não só da sabedoria, mas destes outros jovens buscadores. E, quem sabe, nos encontremos algum dia!
www.cartasalucca.com.br

Inteligência

Do latim inteligere vem o termo que define o sétimo e último "I" dos Serviços Profissionais.
A Inteligência é a capacidade de discernir, de fazer escolhas, de tomar decisões. Uma das pretensas qualidades de todo e qualquer profissional competente, é talvez a principal qualidade do líder de um negócio intensivo em conhecimento.
Os serviços profissionais se desenvolvem em torno de ativos intangíveis, são caracterizados por muita interação com o cliente e são inseparáveis das pessoas. Estamos dentro de um dos contextos de trabalho mais complexos. Não é nada fácil. E não fica melhor se aplicamos as regras da administração convencional. Na verdade, essa falta de pertinência só atrapalha.
Tratar o conhecimento e a criatividade como se fossem matéria prima telúrica; tratar os clientes como se fossem consumidores de mercadorias; tratar os profissionais como máquinas; nada disso é inteligente.
Também precisamos de inteligência para tratar dos assuntos técnicos. Evidentemente sem ela, você nem seria um dos profissionais do escritório! No entanto, se pretende ser mais do que isso, se tenciona ser um dos líderes, se pretende chegar a ser sócio e se responsabilizar pelos destinos do negócio, vai precisar de estratégia e gestão.
A partir da coordenação de todos os elementos que compõem esse complexo e desafiador contexto, com o conteúdo adequado, podemos ter uma estratégia de crescimento para desenvolver nossos negócios com lucratividade, consistência e equilíbrio. Essa é a ideia.
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A inteligência é o que possibilita aos sócios lidar com os ativos intangíveis do negócio, controlar a interação com os clientes e liderar sua inseparável riqueza, os profissionais da equipe.
E, cá entre nós, como característica distintiva dos gênios, é o que nos dignifica como seres humanos.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Características do conhecimento

A lista a seguir é de Alvin Toffler. Achei interessante publicar, pois pode suscitar boas reflexões para os líderes dos negócios intensivos em conhecimento. Para nós, na GrandiGaray, foi útil. Espero que possa lhe ajudar também:
1. O conhecimento é inerentemente não rival;
2. O conhecimento é um bem intangível;
3. O conhecimento é não linear;
4. O conhecimento é um fator relacional;
5. O conhecimento combina com outros conhecimentos;
6. O conhecimento é mais facilmente transferível do que qualquer outro bem ou produto [discordo disso, peremptoriamente!];
7. O conhecimento pode ser resumido e condensado em símbolos ou abstrações;
8. O conhecimento pode ser armazenado em espaços cada vez menores;
9. O conhecimento pode ser explícito ou implícito, expresso ou não expresso, partilhado ou tácito;
10. O conhecimento é difícil de "engarrafar, empacotar" ou conter.
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Discordo de que o conhecimento seja facilmente transferível porque isso depende muito de quem transfere, de quem pretende aprendê-lo e, obviamente, da complexidade do que se está transmitindo. Toffler pensa muito em termos de tecnologia, software, internet... Eu penso muito em termos de processo de ensino-aprendizagem.
Mas afora este item (6), considero todas a demais afirmações corretas. Umas pedem mais questionamento, outras são bem diretas.
Por que não reunir seus sócios e líderes e provocar diálogos em torno destes temas? Relacioná-los com o seu negócio, com seus conhecimentos, com suas especialidades?

Inspiração

Completando os 3 Is de Conteúdo -Identidade, Impacto, Inspiração- falemos do recurso mais importante de um negócio intensivo em conhecimento: o humano.
Ao contrário de nossa condição, os gestores de RH das fábricas sabem que é muitas vezes difícil granjear a devida atenção para as pessoas. Mas no contexto dos serviços profissionais isso não é assim (ou não deve ser, não pode ser). Pois as pessoas são de fato o cerne do negócio. Não é retórica, é fato. Se vendemos conhecimento, este conhecimento está na cabeça dos profissionais.
E não se trata só de conhecimento. As relações, os contatos, a confiança, são elementos emocionais que também fazem parte dos negócios e jazem em cada um dos profissionais. Cada qual, de acordo aos clientes que atende, de acordo à sua rede de contatos, confere vantagens ao escritório que são inseparáveis dele mesmo como pessoa. Além da cabeça, igualmente o coração importa.
Então, como lidar com a inseparabilidade dos recursos humanos nos negócios intensivos em conhecimento? Gerando inspiração para a equipe que trabalha conosco.
Gerar inspiração é mais do que motivar. A motivação é cíclica por natureza. O que preserva o "magnetismo" do escritório é uma cultura de valores e de alto profissionalismo trabalhada ao longo do tempo principalmente pelos sócios e líderes.
Uma cultura de alto profissionalismo, mais do que motivar, é capaz de viabilizar o sonho que tínhamos quando do início da carreira. Os profissionais do conhecimento têm essas característica: não lhes basta ter uma fonte de renda, querem ser capazes de deixar uma marca. Não lhes basta receber elogios do cliente, querem ser reconhecidos entre os colegas de profissão. Não lhes basta ter um diploma de curso superior ou de pós-graduação, querem ser alvo de prestígio pelo seu conhecimento.
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Parece esnobe? Pois não é. Simplesmente os profissionais do conhecimento se realizam de um jeito diferente. Sua realização é um estilo de vida, não uma fonte de renda.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Empresas de engenharia

Post em inglês para os engenheiros:
https://professionalfirm.wordpress.com/2015/11/09/engineering-the-engineering-firms/

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Retomar bons hábitos

Adquirir hábitos saudáveis depende de uma declaração de guerra. Não contra outras pessoas, mas contra os próprios instintos e limitações.
Há autores contemporâneos que tratam do tema com genialidade e estética. Apontam o verdadeiro alvo de nossos esforços, ou seja, nós mesmos. Elio D'anna chama de "o antagonista" no seu excelente livro School for Gods. Steven Pressfield denomina "resistência" no War of Art.
Há autores antigos que representaram o valor da guerra interior em épicos -Bhagavad Gita, Odisseia- e em textos de racional linguagem -Kant, em A Metafísica dos Costumes. Platão igualmente, já no primeiro capítulo de suas Leis, aborda o assunto.
Charles Duhigg, em O Poder do Hábito, menciona a sequencia de gatilho, rotina e recompensa capaz de explicar neurologicamente os hábitos. Essa sequencia também pode ser utilizada como método para o estabelecimento de novos hábitos. Mas ainda assim precisamos de uma forte vontade para iniciar o processo. Ou seja, com explicação neurológica ou sem ela, trata-se de uma batalha interna.
E para voltar a fazer coisas que se fazia antes pode ser ainda mais difícil. Sobrepõe-se à preguiça pensamentos de que você não é mais como era antes ou sentimentos de que não deveria mais se preocupar com essas coisas do passado.
Só que recuperar hábitos saudáveis, voltar a atividades que são boas para nós, não pode ser uma negociação com a dúvida. Tem de ser uma decisão limpa, voluntariosa, espiritual. Temos de submeter a própria personalidade pela determinação de buscar o que é bom. Temos de vencer nossos preconceitos, hesitações e choradeiras.
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E o gostinho de vencer a si mesmo é maior do que o de vencer os outros. É como voltar a jogar futebol toda semana. Ganhar do time adversário é sempre bom, mas o simples fato de retomar o esporte é ainda melhor.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Impacto

Se o cliente pode ajudar ou atrapalhar, melhor que ajude, não? Óbvio que sim.  Pode ser ridículo fazer essa pergunta, mas não é. Quando entendemos que depende mais de nós do que do cliente para que isso aconteça, o óbvio deixa de ser óbvio. É que a responsabilidade pelo trabalho é mútua, mas a responsabilidade por educar é do profissional.
Se o cliente não sabe como ajudar - e às vezes nem sabe que deve ajudar - o profissional precisa potencializar a interação com ele para transformá-lo. Sim, podemos tornar um cliente melhor do que era quando chegou até nós.
A primeira coisa a fazer é aceitar essa atribuição. E reclamar não consta como predicado. Devemos, ao contrário, assumir o compromisso de orientar o cliente. Somos nós os experts, nós é que entendemos do assunto.
A segunda coisa é definir critérios claros logo no início do trabalho. Eu diria, mesmo antes de qualquer contratação. Trata-se de poder dizer "não". Se estamos com problemas de auto-estima (ou com problemas de caixa) isso fica bem mais difícil...
Então, como terceira coisa a fazer, vem a busca por clientes que sejam lucrativos, que se adequem ao nosso tipo de serviço e que se alinhem com nossa proposta de valor. É o que chamamos de "cliente ideal". Não dá para ser tudo para todos, então precisamos ser quem somos para os melhores clientes que possamos ter. Não é só o cliente que nos avalia, nós também os avaliamos. Deste modo, alguns podem ser clientes bons daqui a uns meses, mas não agora.
Neste ínterim, temos de educá-los. Mediante a interação - reuniões, visitas, conversas, trocas de e-mails, telefonemas, sugestões, perguntas, ideias, pesquisas etc - vamos orientando o potencial cliente para que amadureça e possa trabalhar conosco. Afinal, estamos fazendo isso não só para o nosso bem, mas para o dele também. Queremos gerar verdadeiro impacto, queremos que seu investimento tenha grande retorno. Queremos que ele indique nossos serviços para seus conhecidos. Queremos que ele nos contrate muitas vezes mais. Por isso precisamos de paciência antes de um contrato e no interlúdio de novos contratos. Timing é fundamental.
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Um bom profissional pode fazer um excelente trabalho. Mas precisa que o cliente coopere. Do contrário, ao invés de um case de sucesso, teremos um fracasso. E isso seria bom para quem?
Quando ambos os lados ganham, é porque o verdadeiro impacto foi produto de uma interação inteligente.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Crescendo com as duas pernas

Para um escritório de serviços profissionais o crescimento necessariamente implica em uma capacidade múltipla de atender mais clientes e engajar mais profissionais. Já que competimos simultaneamente em dois mercados, isto é, o de clientes e o de talentos, crescer significa vencer ao mesmo tempo nessas duas dimensões.
A boa notícia é que nem sempre a competição nos serviços profissionais ocorre como nos negócios industriais. Não é sine qua non aumentar o volume de vendas, por exemplo. Nem é requisito absoluto realizar investimentos prévios para expandir a produção e logo a oferta. Se pudermos ampliar o valor agregado de nossos serviços - e isso se faz com mais conhecimento - poderemos atrair clientes que pagam mais, ganhando contratos mais lucrativos.
Entretanto, diferentemente das fábricas, os escritórios não podem pensar talentos e clientes separadamente. Pois adicionar valor aos serviços, desenvolver conhecimento e transformá-lo em valor para os clientes, requer mentes humanas trabalhando em conjunto. Por mais genial que um profissional seja, sozinho, vai perder vantagens com relação aos seus concorrentes que estiverem com uma equipe melhor e mais coesa.
Uma alternativa é contratar profissionais para assessorar em certos projetos, eventualmente. Isso acontece muito comigo ajudando meus clientes a "pensar o escritório". Não só porque sou consultor, pois o mesmo ocorre com advogados, arquitetos, engenheiros, entre outros profissionais. Não é somente contratando um novo associado ou empregado que se pode expandir o potencial da equipe. Podemos contratar especialistas (como cada um de nós, certo?) para ajudar em momentos específicos, em certos contratos que demandem um time incomum ou simplesmente para desenvolver negócios de maior valor.
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Há muitas maneiras de crescer. Mas todas integram as duas dimensões: talentos e clientes. É como andar com as duas pernas. E, se quiser andar mais rápido, fica ainda mais prudente fazer isso com equilíbrio. Podemos correr, até pular, mas sempre com as duas pernas.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Blog em inglês

Hi,
the aim to starting this blog was to put brazilian professional services firms in evidence. Not only for their clients or even for the global market, but specially for themselves.
I work as a strategy and management consultant -more than 10 years- and just realized that this sector in Brazil is still “hidden” and maybe even below the mature level if compared to traditional businesses (such as factory based industries…).
Besides knowledge economy is already in front of the scene and deindustrialization awares everybody, our professional firms are not aware of themselves yet. And I wanna help promoting this new chapter in Brazilian business leadership.


Wanna join?
ProfessionalFirm

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Identidade

Quem sou, de onde vim, para onde vou? Essas questões aplicam-se também aos negócios, não só às pessoas. Se você é sócio de um escritório de serviços profissionais, preste atenção. Este é mais um dos conceitos que compõe o Modelo dos 7 Is e que pode ajudá-lo a ter uma correta estratégia de crescimento.
Definir a identidade do negócio é requisito para saber quais são os clientes que realmente nos interessam. Lucratividade, coerência, capacidade de entrega, possibilidade de gerar cases de sucesso. Tudo isso fica facilitado quando trabalhamos para clientes que se alinham à nossa essência. Para tanto, temos de saber primeiro quem somos.
Algumas perguntas direcionam essa tarefa: como nos posicionamos no mercado? Qual é nosso negócio e nossa missão? Qual é a nossa proposta de valor? Que valores nos distinguem? Que imagem queremos transmitir? Como devemos construir nossa reputação? Que diferenciais oferecemos?
Além de orientar os esforços de marketing e desenvolvimento de novos clientes, uma identidade clara e bem construída ainda ajuda a atrair e reter talentos. Já que os profissionais são os recursos mais valiosos dos serviços intensivos em conhecimento, é fundamental poder lhes dizer qual é nossa visão de futuro, onde eles podem crescer e como realizar sua carreira conosco.
Transformar conhecimento em valor é a promessa geral de advogados, arquitetos, engenheiros, entre outros dos professional services. Muitas vezes fica difícil ver com clareza quais os resultados que se obtém com o trabalho proposto. Precisamos saber explicar nossos serviços em detalhes e com objetividade para suprir essa lacuna que muitas vezes leva as negociações de novos contratos para a simples discussão de honorários. Uma vez não compreendido o valor, a sensibilidade a preços aumenta.
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Tangibilizar o intangível é um grande desafio. Definir uma identidade clara é a solução. Vai ficar mais fácil explicar o que vocês fazem e cobrar os justos honorários para lhe contratarem.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

"Fazer sempre"

Kant diz que não há nada bom em si como a Boa Vontade. Certo. Mas o mesmo filósofo pretende que os atos aconteçam. Não basta a intenção, há que realizar.
Dizem os americanos com sua inconfundível objetividade: Make it happen! Ou seja, precisamos fazer acontecer as coisas, na prática. Dar vazão às nossas ideias para que venham ao mundo concretamente. E o que é necessário para isso? Uma grande ideia? Não. É preciso ação. Mas o problema é que muitas vezes o fazer não é difícil, e sim o "fazer sempre". Entra em cena o valor inestimável da disciplina.
Persistir, continuar, insistir mil e uma vezes. Tem de ser repetitivo - sem mecanicidade ou automoatismo. Tem de fazer um pouco a cada dia, todos os dias um pouco. Sempre. Insistentemente.
Talvez seja necessário uma sagrada teimosia, que permite ao entusiasmado empreender uma jornada de conquista e realização. Que seja. Os teimosos, às vezes, são um presente para os grupos humanos...
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Se você tem boas ideias que podem ajudar empresas e pessoas, negócios e cliente, que bom. Melhor ainda se você pode executá-las na prática do dia-a-dia. E este é o mistério que separa a teoria da prática: disciplina. Dê atenção e reserve paciência para o seu plano. Tire-o do papel. Não é só questão de fazer, mas de fazer sempre.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Inseparável

Completando o triplo contexto dos serviços profissionais -intangível, interativo, inseparável- falamos das pessoas. O principal recurso de um escritório, empresa ou agência de serviços, são os seus sócios e associados. É, portanto, inseparável da nossa equipe a nossa capacidade de fazer o que fazemos. Se quisermos fazer bem feito, precisamos de boas pessoas.
O conhecimento, por mais que possa ser explicitado em métodos e procedimentos, nunca está totalmente desligado dos cérebros. E igualmente dos corações, quem sabe? Se para solucionar os problemas dos nosso clientes temos de ser bem racionais, para gostar de ajudar os clientes temos de ter sentimento.
Por isso um negócio intensivo em conhecimento concorre simultaneamente em dois campos: na conquista de clientes, e na conquista de talentos. E, às vezes, a segunda competição é ainda mais acirrada. Afinal, com os profissionais certos, será mais fácil conseguir os clientes que desejamos.
Os sócios e demais líderes são responsáveis por isso. Recrutar, selecionar, integrar, capacitar, desenvolver, liderar profissionais do conhecimento não é tarefa fácil. Mas pode ser o grande diferencial dos negócios de sucesso. Pode ser, não. É.
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Eu, particularmente, decidi-me por especializar minha atividade de consultoria no âmbito dos serviços profissionais justamente porque aí posso trabalhar sempre com pessoas, ao invés de máquinas. Você também gosta de trabalhar com as pessoas? Que bom, assim podemos ter um bom serviço.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O Melhor de Si

Quando o treinador diz, olhando no olho do seu discípulo, "vai lá e dê o seu melhor", está lhe dando uma chave para a vida. Não somente no que se refere a um torneio ou exame, dar o melhor de si é conselho certo. Para tudo que fazemos -no trabalho, na universidade, entre amigos- o propósito geral de ser impecável é a forma segura para o êxito.
Em verdade, o êxito deixa de ser, deste modo, uma questão de resultados. É como a palavra "convicção", do latim, que significa estar com a vitória. O convicto já venceu, pois entrou acompanhado da vitória. Não importa o resultado. O fato de dar o melhor de si, de coração, concentrado, já é vitória total.
Como não sabemos o que há depois de cada momento, como não podemos ter certeza sobre o futuro, a única possibilidade de domínio é estar muito presente, de corpo e alma. Estando cem por cento atento, ligado, senhor do que se está fazendo no agora. Assim pode-se oferecer o melhor de si. E é o que fazem os homens e mulheres de sucesso.
Mas é necessário saber o que temos de melhor, não? Pois, para dar algo, temos de saber que é isso. Deste modo, dar o melhor de si implica em conhecer-se também. E não é algo que se faz antes. É durante. Ou seja, enquanto nos esforçamos, aprendemos sobre nossas limitações e corrigimos erros. Vamos ganhando mais conhecimento do que temos dentro de nós e, por conseguinte, tornamo-nos capazes de fazer ainda mais.
Dando o nosso melhor, aprendemos sobre o que temos de melhor. Sabendo o que temos de melhor, podemos dar o nosso melhor. Um ciclo virtuoso.
E nas repetições dos dias isso se acumula e se reforça numa espiral de crescimento... É belo, sim. E é extremamente prático também.
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E como dar início a este ciclo? Não adianta ficar parado pensando... Vai lá e dê o seu melhor!


sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Cuidado com o "certinho"

Entre os budas e os imbecis, está a grande maioria das pessoas. Somos nós, os prosaicos caminhantes das ruas das cidades, os comuns trabalhadores do dia-a-dia. Somos os líderes e os liderados, os empresários e os empregados, os sócios e os associados. Por vezes, até invertemos papéis. Por vezes os compartilhamos. Não importa. Estamos todos aí, mais ou menos no mesmo barco.
Há os sábios e há também os idiotas. Agora, há que considerar que afora essas exceções, a grande maioria tem seus defeitos e tem suas virtudes. Gente normal. Seres humanos. E quem queira ser "certinho" perde a referência de sua própria natureza. Talvez a negue até, perdendo com isso justamente a possibilidade de ser melhor a cada dia.
Não é o mesmo ser perfeito e estar aperfeiçoando-se. Um filósofo, por exemplo, não é um sábio, mas um buscador da sabedoria. Um bom líder, não precisa imaginar-se invencível, mas um determinado buscador da vitória. A humildade é própria dos que conscientemente lutam contra suas limitações e fortalecem seus qualidades. O "certinho", amiúde, é vaidoso.
Cuidado! Seja você mesmo, não se deixe estereotipar. A autenticidade é por si só uma virtude. Podemos, sim, ser melhores e aperfeiçoar nossa conduta. Mas com naturalidade, com simplicidade.
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Você conhece alguém que se esforça para ser "certinho"? Ajude-o, pois é mais provável que precise de orientação do que possa dar direção aos outros. Por que ele não se conhece o suficiente. E quem não se conhece, não pode (ou não deve) liderar. Assim dizia Platão. Eu, com toda modéstia (e apesar dos meus defeitos), assino embaixo.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Interativo

Nos serviços profissionais a interação com o cliente destaca-se pela participação que este tem no desenvolvimento do trabalho. Nossos clientes atuam em conjunto conosco. Muitas vezes ajudam, algumas vezes atrapalham, mas nunca estão alheios. Sua presença durante a execução do serviço torna-os um componente que não é passivo, mas ativo. É fundamental, pois, potencializar essa interação se queremos atingir um bom desempenho.
Para qualquer profissional do conhecimento há um processo que se inicia com o entendimento das necessidades do cliente através das suas aspirações e aflições. Muitas vezes o cliente nem sabe exatamente o que precisa. E às vezes, claro, ele pensa que sabe. É quando precisamos argumentar para que seu ponto de vista se alinhe ao nosso. Nós somos os especialistas, mas ele será parte do trabalho e precisaremos de sua ajuda. 
Em qualquer negócio, não só em serviços, o cliente se justifica como a razão pela qual este negócio existe. Mas nos serviços intensivos em conhecimento a atuação em conjunto com o cliente demanda uma especial atenção: a sua educação. Educar o cliente é tarefa que começa no marketing, passa pelas conversas de contratação e deve se estender durante todo o projeto. E, ao final, recomenda-se algum tipo de fechamento do trabalho com viés de orientação também, para que os próximos passos e/ou necessidades sejam melhor conduzidos.
Tanto mais educado o cliente, maior será a probabilidade de fazermos um bom trabalho, podermos gerar mais cases de sucesso e conseguir indicações (a principal fonte de novos negócios). 
Veja que isso tudo depende de uma consciente atuação dos profissionais aproveitando a interatividade. Sempre que interagimos com nossos clientes temos a oportunidade de compreender mais como pensam e também de influenciá-los. Afinal, é para isso que nos pagam. Os serviços profissionais significam especialidades que são contratadas pela capacidade que têm de influenciar o cliente.
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Quem não quer ser influenciado não contrata um profissional. Faz as coisas do seu jeito. Problema dele. Um profissional pode ajudar e deve fazer isso interagindo com seu cliente. Ambos trabalham juntos. Não é competição, nunca. É cooperação, trabalho conjunto. É interação.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Pelas ruas do Cairo

Estive no Egito neste ano e a despeito das suas maravilhas antigas nota-se suas muitas mazelas contemporâneas. Superpopulação, pobreza, violência, fragmentação política. Até os garçons e vendedores expressam um certo sentimento difícil de entender... Numa palavra: cansaço.
No sul do Egito, próximo de Assuã, vi a miséria de um povo que parece sobreviver como pode, enfrentando seus dias com esperança. No norte, no Cairo, vinte e cinco milhões de pessoas misturam-se numa miríade de rostos que miram com estranheza. Chegaram a tirar foto comigo, o estrangeiro. Sorridentes, alegres, fui para eles uma mescla de curiosidade e excentricidade. Todos rimos juntos, como seres humanos devem fazer independente de sua raça, religião, nacionalidade, idioma. Fomos, naqueles instantes, um pouco irmãos. Sentimos, ainda que por momentos, a possibilidade da fraternidade.
No Cairo quase não há semáforos. E, espantosamente, não se vê acidentes. Parece que o Egito moderno também tem lá os seus mistérios...
Pelas ruas do Cairo vi a tristeza da civilização atual. Nosso mundo de hoje espelha uma globalização que mais promove a massificação e o culto à tecnologia (lá, todos de celular, claro). Através das contendas de poder, entre as grandes nações e as pequenas máfias, o indivíduo humano quase não aparece. Esforça-se apenas por sobreviver. Fica difícil transcender.
Pelas ruas do Cairo pode-se ver muitas coisas só deles. Mas também vemos a fadiga da humanidade toda, cansada de injustiça, cansada de violência, cansada de sofrimento. Isso, infelizmente, não é particular do Egito. Independente de problemas locais, o mundo chora em conjunto.
Claro que também conheci pessoas idealistas, alegres, enérgicas. A esperança marca o semblante de alguns líderes locais. E isso igualmente nos mostra como somos parecidos quando expressamos o que há de mais humano em nós.
Aos líderes do futuro: perceber que para além das diferenças o ser humano é feito da mesma substância interior. Nossa natureza espiritual é uma só. Podemos, pois, ficar tristes juntos, pelos problemas dos outros. Podemos, outrossim, ficar alegres juntos, pelo regozijo alheio.
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Quem sabe possamos recordar também as maravilhas dos antigos faraós, de uma civilização que, ao contrário do que nos contam no colégio, foi esplêndida. Verdadeiro modelo de vida.
Quem sabe se possa ver também a solução para os problemas contemporâneos nos ensinamentos dos sábios antigos. Por que não? Afinal, já estamos ficando um pouco cansados da modernidade.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Nobreza na crise

O assunto da crise tem duas vertentes. Uma, associada à conjuntura econômica e política (e histórica também, coisa que a maioria parece esquecer). Outra, ligada à psicologia humana que, em certos casos, parece gostar de situações tristes -  uma espécie de morbidez intrínseca, doentia.
No primeiro caso, basta uma conversação entre gente que entende do assunto: economistas, filósofos, cientistas políticos, pessoas experientes no assunto, profissionais, estudiosos... Mas a extensiva carga de opiniões e "achismos" é torrencial hoje em dia. E cansa. E, claro, não ajuda em nada. A ninguém.
Claro que isso se mostra muito profícuo ao se unir à segunda vertente, ligada ao pessimismo, dramatização, provocações e, não raro, vulgaridades. É vulgar atrapalhar quando não se pode ajudar. É igualmente vulgar estar lamentando-se, repetindo para todos como as coisas estão difíceis...
A atitude contrária à vulgaridade é a nobreza. O nobre de espírito é independente de cargos e de posses. O é pela sua atitude e natureza interior. É uma questão de conduta, de postura. E é vantajoso estar com pessoas assim, em momentos de crise ou não.
Se não pode ajudar, não atrapalhe. É uma frase da sabedoria popular. Mas parece que até a sabedoria popular foi esquecida há muito tempo. Quem pode resgatar a sabedoria então? Bem, com certeza não os vulgares, nem com mil opiniões. No entanto, os nobres (onde estão?) com algumas palavras de ciência, sim, podem ajudar.
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A nobreza obriga, diziam os mestres templários. E os líderes que se sentem obrigados a sustentar uma atitude de valor em momentos difíceis ajudam muito a enfrentar os problemas. E ajudam a muita gente. Quem não se sentir obrigado não responda, então. Apenas agradeça: obrigado!

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Intangível

Os principais ativos dos serviços profissionais são intangíveis: conhecimento, criatividade, experiência, especializações, cases de sucesso etc. O que oferecemos para nossos clientes não pode ser pesado, tocado ou visto com os olhos. Assim, é preciso "ver o invisível"...
Uma das principais tarefas dos sócios de um escritório, seja de qual for seu ramo profissional -advocacia, arquitetura, engenharia, software, comunicação, design, comércio exterior, entre outros- é explicar para seus clientes o que fazem e qual o valor do seu trabalho. Muitas vezes daí vêm uma dificuldade em justificar os honorários e há os que me reclamam de quão complicado pode ser cobrar um preço justo pelos seus projetos e contratos.
Além disso, há ainda a dificuldade em criar um consenso dentro da equipe. O intangível desafia o grupo quanto à comunicação e a troca dentro do escritório. A equipe precisa de coordenação e não raro os profissionais não se entendem tão bem quanto gostariam... E criar uma cultura consistente e que perdure no tempo depende de uma clara visão do que fazemos, do que nos diferencia, de quem somos e para onde estamos indo. Se todos compreendem isso, melhor. Acontece que é raro encontrar um escritório em haja essa clareza.
Mas isso não precisa ser assim. Tanto do ponto de vista do discurso para os clientes e o mercado, quanto do ponto de vista do entendimento interno e a justa coordenação para realizar o trabalho, podemos melhorar. A dica é tangibilizar o intangível.
Primeiro, há que aceitar a ambigüidade, a abstração e a complexidade inerente aos negócios baseados em conhecimento. E aceitar significa investir tempo e energia em desenvolver o assunto com seus sócios. Segundo, há que qualificar o diálogo. A conversa é nossa principal forma de ação - para atender os clientes, bem como para organizar o trabalho. Por fim, um método formal de planejamento do negócio ajuda em muito.
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Este é um dos 7 Is dos Serviços Profissionais. Aos poucos, o modelo completo vai sendo explicado e pode ser utilizado como orientação para você que lidera um negócio intensivo em conhecimento. Aproveite este conteúdo. Agregue valor ao seu escritório, para poder agregar mais valor ao seu cliente!

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Serviços Profissionais

Numa tradução livre do inglês -professional services- endereçamos aqueles serviços intensivos em conhecimento e de alto valor agregado como uma espécie de "elite dos serviços". É um nova categoria para muitos aqui no Brasil que, na sua maioria, desconhecem o tema. Os serviços profissionais incluem: escritórios de advocacia, arquitetura, empresas de engenharia, consultoria, software, contabilidade, agências de design, comunicação etc. Entretanto, quão "profissional" é o típico escritório brasileiro?
Em termos técnicos é deveras excelente. Contudo, quando se dispõem a crescer, os sócios normalmente enfrentam problemas... Conquistar novos clientes em equilíbrio com a capacidade da equipe; atrair e reter talentos; aumentar a lucratividade dos serviços; inovar e desenvolver novos serviços; estruturar times de trabalho e formar lideranças; gerir o conhecimento acumulado; planejar o futuro do negócio; desenvolver a reputação com estratégia de marca completa e coerente; criar uma cultura de alto desempenho e que não dependa dos fundadores "para sempre"; etc e etc. 
São muitos os desafios, mas podemos apontar uma lacuna crítica: não há no país conteúdo de estratégia e gestão especializado para os negócios intensivos em conhecimento. Os serviços profissionais acabam sendo geridos à luz das fábricas e indústrias, ou então como se fossem semelhantes às lojas ou outros serviços intensivos em mão de obra. O paradigma é industrial, quando deveria ser pós-industrial. Somos expoentes da economia do conhecimento, mas faltam referências próprias para as nossas necessidades.
Nós, da GrandiGaray, estamos criando isso em base à experiência e muita pesquisa em inglês, importando e adaptando para a realidade brasileira. A partir daí nasceram "Os 7 Is dos Serviços Profissionais". Este modelo já está ajudando muitos sócios de escritórios de diferentes ramos a gerir o seu negócio. Nas próximas publicações, vou descrever cada um destes sete conceitos. Acompanhe.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Vontade de saber

Em 1900 Alfred Binet criou o famoso teste de QI, na França. Em 1983 o americano Howard Gardner publicou sua teoria sobre as Inteligências Múltiplas. Nestes últimos cem anos, muitos estudos, pesquisas, teorias e experimentos foram realizados, de Harvard à Sorbonne, sobre o tema do potencial humano. O que podemos dizer sobre isso de definitivo?
Ora, podemos com certeza afirmar que cada um de nós tem uma capacidade muitíssimo maior do que a que utilizamos. Mas deveria ser - mais importante do que esta constatação - a busca pelo desenvolvimento da criatividade o nosso foco, e não só a investigação sobre ela. Nada contra os estudos, mas eles são normalmente descritivos. Se quisermos fazer uso prático dessas descobertas, precisamos de algo mais prescritivo: como desenvolver minhas capacidades?
Ler, refletir, conversar, praticar exercícios físicos, dançar, jogar xadrez, meditar, apreciar (boa) música, tocar um instrumento, cantar, experimentar, desenhar, pintar, cozinhar, nadar, viajar, conhecer pessoas, aprender um idioma etc. São todas atividades que estimulam nosso potencial. Ele existe. E é imenso. Desenvolvê-lo é só questão de querer. Independente do que tenhamos aprendido ou não aprendido no colégio. Há muitas opções à sua disposição, não deixe o tempo passar sem aproveitar a oportunidade de ser mais inteligente a cada dia. A inércia se vence com iniciativa e uma boa dose de imaginação.
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Hoje, um dos grandes nomes da educação, Sir Ken Robinson, fala sobre como as escolas são falhas em promover a criatividade. Não podemos depender do ensino convencional. É mister buscar saber (philos-sophos) por própria vontade. Filosofia é amor à sabedoria, contudo é também vontade de sabedoria.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Por las calles de Madrid

Madrid é uma cidade em que não dá vontade de ir para casa. Dá vontade de ficar na rua, andando de bairro em bairro, apreciando as sacadinhas típicas dos prédios que conferem um padrão aos diferentes lugares em que paramos para tomar um café, uma cerveja ou um vinho. Aliás, "vinho da casa" é sempre bom lá, não tem erro.
Me pergunto porque não sentimos a mesma coisa em todas as cidades, sobretudo no Brasil? Obviamente tem a questão da insegurança, mas não é só isso. A opção pelos shoppings centers e outros lugares fechados implica em um hábito. E o hábito madrileño é o de estar na rua, até tarde. Por toda a cidade você encontra restaurantes, cafés, bares e lugares ao ar livre. O calor do verão do hemisfério norte combina muito com a Espanha.
Um sentimento bem específico me toca: ser parte da cidade, pertencer à urbe, fazer-me cidadão de lá por uns dias. Não há jeito melhor de conhecer um lugar. Mesclar-se às suas gentes, andar pelas suas ruas, deixar-se invadir pela sensação de ser um deles, não um estrangeiro. O estrangeiro é estranho, não pertence ao lugar.
E não é que às vezes somos assim? Andamos tão recolhidos ao cotidiano mecânico dos dias que passam sem intenção, sem sensação, que viramos estranhos. Estrangeiros de nós mesmos. Ficamos isolados e sem contato com o mundo. Deixamos de participar da vida quando isso acontece. Há que se salvar disso.
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Como diria Ortega y Gasset, talvez inspirado ele mesmo pelas calles de Madrid, sua cidade natal, "o homem é ele e suas circunstâncias". Portanto, se queremos viver a vida integralmente, não devemos nos limitar e fugir do mundo, mas estar nele, andar por ele como um dos seus cidadãos.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Teoria (e prática) do Valor

Valor é questão de escolha. Vale mais aquilo que mais atraia a atenção e que mais instigue a escolher. No caso de um serviço profissional, por exemplo, o valor está na percepção do cliente pela utilidade, vantagens, benefícios e resultados que pode obter com a contratação. Daí a pergunta: como ser mais atraente? Como transmitir e oferecer mais valor?
Usualmente, os serviços intensivos em conhecimento são de alto valor agregado. Mas pode ser que você precisa melhorar algo nisso... Então a dica é desenhar uma proposta de valor que descreva com clareza para os seus potenciais clientes que é que eles podem ganhar com o seu trabalho. Abaixo uma lista de estímulo a um brainstorming com seus sócios para desenvolver o assunto:
- Resultados imediatos e resultados de longo prazo
- Resultados tangíveis e intangíveis
- Ganhos financeiros
- Redução de perdas
- Otimização de tempo, melhoria da produtividade
- Benefícios emocionais
- Vantagens em relação à concorrência
- Aprendizado
- Novas oportunidades decorrentes do trabalho
- Mais exposição da marca, fortalecimento da imagem
- Acesso a novos mercados
- Ganhos de uso e funcionalidades
- Proteção e segurança
São tantas as linhas de exploração que a lista poderia ser ainda muito maior. Mas o importante é dar início a uma coisa que muito recomendamos para nossos próprios clientes: aprenda a colocar-se no lugar do seu cliente. Aprenda a ver com os olhos do cliente. Que ele valoriza? Que ele quer? Que ele precisa? Que ele gostaria de obter? Como ele poderia se fortalecer em relação aos seus concorrentes? Como ele pode ter mais aceitação pelo seu mercado? O que é que lhe tira as noites de sono? O que lhe deixa estressado? O que lhe deixa feliz?
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Enfim, ser um profissional de valor para o seu cliente depende de entender o que ele valoriza. Essa é a teoria e a prática do valor.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Pensando dentro da caixa... certa.

É trivial, já, dizer que temos de pensar "fora da caixa". Então, se preconizar que devemos, ao contrário, pensar dentro dela, serei estranhado?
Acostumados a pensar dentro da caixa das fábricas, muitos sofrem de angústia com a tal desindustrialização. Menos os profissionais ligados à nova economia, a economia do conhecimento. Crescendo a sociedade dita pós-industrial, a "terceira onda" de Toffler, aumentam as possibilidades para as lideranças nascentes de um novo segmento que já se chega a denominar de setor quaternário. Na sequencia do agronegócio, da indústria, do comércio, os clássicos três setores da economia, surge um quarto, baseado em informação, conhecimento e tecnologia: os serviços profissionais.
Mas estes negócios não podem ser pensados dentro da caixa da gestão convencional. São muito diferentes! Seus principais ativos são intangíveis, há muita interação com o cliente e há forte dependência das pessoas (de boas pessoas).
Os serviços profissionais precisam de uma caixa própria. Pensar estratégia e fazer gestão de escritórios de advocacia, arquitetura, contabilidade, empresas de engenharia, software, projetos, agências de design, comunicação, entretenimento, entre tantos outros exemplos, requer um conjunto de conceitos adaptados ao devido contexto.
Temos de pensar fora da caixa das fábricas, e dentro da caixa dos serviços intensivos em conhecimento. Nós, profissionais do conhecimento, merecemos nossa própria caixa.
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Nota: "pensar fora da caixa" significa descontextualizar ou abstrair, para poder refletir, ter insights, criar, inovar, sem as amarras do paradigma dado; mas se, logo, não concretizamos ou contextualizamos de volta, corremos o risco de virar nuvem... inútil.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Critério: novos problemas

Como saber se o seu trabalho está mesmo causando impacto no negócio do cliente? Para mim, é uma questão simples: o tipo de problemas que o cliente enfrenta hoje tem de ser diferente do que enfrentava antes.
Se passados alguns meses o seu trabalho não gera novos problemas, cuidado, significa que a condição do cliente não mudou. Tomar a ausência deles como critério seria ingenuidade. E buscar a mera solução dos problemas que outrora estavam ali é pouco. A diferença real é percebida pelo tipo de coisas que agora preocupam.
Por exemplo, se vou ajudar um escritório a conquistar mais clientes, e isso dá certo, agora eles terão que atender esses clientes, terão de lidar com novas situações e o estresse já é outro. Antes, preocupam-se por ter mais contas para atender. Agora, ocupam-se de atende-las. Novos problemas.
Noutro exemplo, se me chamam para desenvolver lideranças dentro de uma empresa e conseguimos fazer isso, surgem novas demandas. Estes líderes vão querer inovar, identificarão necessidades antes não vistas, desejarão fazer a diferença e vão questionar o status quo. Logo, novos problemas a resolver.
Se porventura preciso ajudar no planejamento estratégico e na estruturação do negócio, e funciona, a empresa vai desenvolver novas oportunidades, vai entrar em novos mercados, vai conseguir novos concorrentes, vai crescer e precisar de mais profissionais competentes etc. Mais trabalho.
Então, a questão não é eliminar problemas, tão somente. A questão é elevar o patamar do cliente para problemas mais "interessantes". O critério é o tipo de problemas, não sua existência.
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Mas como o cliente entende isso? Explique. Mostre a ele que antes de contratá-lo tinha de se preocupar com coisas que hoje já são superadas, mas que há novos desafios. Isso indica progresso e crescimento. Agora estamos noutra!

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Conversa: essencial e humano

No mundo dos negócios de conhecimento a conversa é essencial. É, ainda, humana, claro. Provê possibilidades de encontrar oportunidades para agregar valor ao cliente. Através da conversação, fluem ideias, histórias, experiências, insights, criatividade, especialização técnica, casos de sucesso, erros e correções. A conversa é o meio pelo qual os negócios acontecem.
Não é só no contexto dos serviços intensivos em conhecimento. Em todo ambiente profissional acontece isso. Mas entre advogados, arquitetos, engenheiros, profissionais de software, consultores, é sobremaneira relevante para o trabalho. Saber conversar é parecido com saber trabalhar. Também escrevemos, também desenhamos, também pesquisamos, também calculamos. Mas, sobretudo, conversamos.
O poder da conversa ocorre interagindo com os clientes e igualmente interagindo dentro da equipe. As perguntas e as respostas viabilizam a transformação do conhecimento em valor. É buscando o essencial, ou seja, aquilo que pode realmente fazer a diferença, que geramos os reais benefícios para os clientes. E isso depende de perguntar e escutar bem o que eles têm a dizer. E o essencial faz a diferença, da mesma forma, para um melhor trabalho em equipe. Entender o que é realmente importante para nossos colegas facilita a dinâmico do grupo.
E, que tal? Com isso humanizamos o trabalho! O ambiente fica mais divertido, mais inovador, mais instigante. A curiosidade aflora. Conhecemos pessoas, entendemos problemas, encontramos soluções. O ser humano é dessa espécie, não?
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Na dúvida, converse. Não sabe o que dizer? Pergunte. O importante é humanizar e buscar o essencial nos serviços profissionais. Todos ganhamos.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Victoria and Albert

Para além das realizações em prol da ciência e da arte, incluindo os museus de história natural, o Royal Albert Hall e o Vic & Albert Museum, o casal real do século XIX da Inglaterra deu-nos uma lição mais profunda. E muito prática. Se pudéssemos fazer as coisas como eles, se pudéssemos chegar ao grau de cumplicidade e cooperação que o casal demonstrava, nossa geração de líderes seria menos feminista/machista. Seria mais efetiva. E, melhor ainda, com um forte exemplo moral - comovendo as pessoas à nossa volta para serem assim também.
A Inglaterra vitoriana não era perfeita (alguma civilização foi?!), mas seu modelo de liderança pode ser abstraído e considerado. Quem não se admira de uma dupla de líderes que dá caminho para milhões de pessoas e ainda deixa um traço de mútuo amor e companherismo? Eu, sim. Romantismo? Ou será praticidade? Afinal, quem não precisa de amizade, amor, cumplicidade etc.? Ainda mais, no exercício do poder e na condução responsável dos negócios, sejam públicos ou privados.
É que hoje há muitos desocupados de projetos vitorianos.... quer dizer, todo mundo se ocupa de seus interesses. Só. Sem amor, sem solidariedade, sem cooperação. Muito menos cumplicidade.
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Depois da morte da Albert, deve ter sido difícil para Victoria. Os diários dela o atestam.
Para nós, cabe a reflexão: quanto valorizamos dessas coisas "vitorianas"? Não se trata de romantismo, e sim de deixar concretas contribuições para a sociedade e as pessoas que nos cercam.
É melhor ser prático com amor, do que hipócrita angustiado.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Profissão, estilo de vida

Quando se trata de profissionais do conhecimento, a escolha da profissão é mais do que definir uma fonte de renda. É uma eleição mais ampla, relacionada ao estilo de vida que se quer ter.
O dia a dia de um profissional é descrito pelos seus clientes, pelo tipo de problema que se vai deparar, pelos colegas com quem vai compartilhar o escritório, os temas das discussões e os desafios intelectuais, o dress code, os locais que vai frequentar, os aeroportos que vai passar...  
Advogados, arquitetos, engenheiros, consultores, tecnólogos, designers, entre outros, são como as máscaras do "herói de mil faces" de Campbell; podemos supor uma mitologia das profissões...
Não acho que o futuro vá importunar essa mentalidade. Ao contrário, penso que a carreira, tão importante hoje quanto antes (e talvez ainda mais), possa salvaguardar um pouco de liberdade. Se as pessoas muitas vezes sentem angústia, não seria pouco encontrar entusiasmo na própria carreira. Muitas horas da semana podem ser resgatas assim.
Enfim, num projeto de vida, um plano de carreira pode ser mais do que ter metas financeiras. E no imaginário dos profissionais do conhecimento, isso pode ser um imperativo. Para o seu bem e o para o bem dos seus clientes!
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O que você aprende na sua prosaica semana de trabalho? E, em tempo: o quão prosaica é?
Se pudesse vestir uma máscara - e vestirá de qualquer maneira, pois a profissão não é nossa total identidade - assumindo um papel de uma pessoa fashion que vive seus dias descontraidamente, poderia curtir os seus dias de trabalho como sendo a realização do seu estilo de vida.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Ao invés de vender...

Os profissionais muitas vezes têm dificuldade de vender seus serviços e fazer marketing de si mesmo. Isso é mais do que comum, na realidade. É quase a regra.
Tendo em vista que os temas de gestão, estratégia, marketing, negociação, raramente são tratados na faculdade, a maioria nem sequer suspeita de como fazer isso.
Conceitualmente, marketing vem antes da venda. Peter Drucker, o velhinho do management, disse que o propósito do marketing é tornar o esforço de vendas desnecessário.
Assim, para não precisar fazer aquilo que você não gosta de fazer (vender), é necessário estratégia para posicionar-se no mercado, desenvolver diferenciais, definir seu cliente ideal etc. Daí em diante, podemos planejar as táticas de comunicação para alcançar e atrair os clientes que lhe interessam, gerando relacionamento e construindo confiança. Isso não acontece da noite para o dia, muito menos vendo o tempo passar, rezando por uma benção celeste ou acreditando no aleatório. (Como alguns ateus, que substituem Deus, o fazem no seu culto neopositivista. Mas este é outro assunto).
Marketing em Serviços Profissionais não é fácil. Mas também não é impossível. Ademais, é uma necessidade.
De qualquer forma, o primeiro a fazer é mudar a mentalidade a respeito desses assuntos.
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Ao invés de vender, seja contratado. Por isso, o marketing é seu principal exercício.
[e se precisar de ajuda, conte conosco]

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Pelas ruas de Montreal...

...eu vi o mundo.
Gente de todos os lugares caminhando na Saint Catherine Street; pretos, brancos, amarelos; homens e mulheres; jovens e velhos. E a gentileza típica do quebecua espalhada pelos atendentes das lojas, dos restaurantes e dos hotéis. A maioria deles, por paradoxo, não nascidos em Quebec. É que nos toca a cultura local, a todos, e passamos a ser um pouco como os nativos. Acho que a mistura franco-inglesa da província deu a matriz para se criar uma cultura sem igual, de bela gastronomia e muita cordialidade.
Ao ver um mundo de possibilidades numa cidade, vemos nossas muitas possibilidades também.
Há virtudes insuspeitas. Precisamos testar, experimentar, ousar e viver para conhecer nossos potenciais. Temos muitos talentos, não podemos deixá-los dormidos.
Há defeitos. Muitos defeitos. Devem morrer. Como debaixo da neve espessa que cobre as ruas do Canadá nos invernos morrem as folhas e a grama, podemos matar defeitos.
Podemos renascer também a partir da constatação de nossa riqueza humana. Somos cheio de coisas, como as imagens versáteis da Saint Catherine. Temos de tudo em nós.
Conhecer-se pode depender de conhecer lugares e pessoas. Conhecendo, conhecemo-nos.
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É bom ver o mundo. E ver um mundo eclético não só em possibilidades, mas em realidades. Temos dentro de nós tudo o que precisamos para viver a vida. Somos completos, somos totais. Só temos de descobrir.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Honorários baseados em valor

- Você não cobra seus honorários por hora?
- Não, eu não sou taxista.
Esse diálogo surpreendeu vários clientes meus quando, pela primeira vez, apresentei-lhes uma nova forma de remuneração dos meus serviços. Também tenho ajudado muitos deles a alterar seu método de precificação, uma vez que a tirania das horas ainda aflige a maioria dos escritórios de serviços profissionais. Mas onde está a raiz da questão?
O que ocorre é que o deslocamento dos honorários (preço) para o lado do custo, acrescentando-lhe uma margem de lucro - como se uma fábrica fôssemos - é efeito principalmente de não entender o próprio valor. Sim, os profissionais muitas vezes não conhecem o seu próprio valor. Por que estranhar se o cliente é demasiado sensível a preços se você mesmo, em primeiro lugar, não compreende com clareza sua proposta de valor?
Ao contrário do convencional, definir os honorários baseando-se no valor percebido, leva a questão para o terreno da liberdade de escolha e da busca pelo melhor investimento. O cliente deixa de vê-lo como um gasto; agora você é - como deve ser um profissional do conhecimento - um ativo, um investimento.
Na prática, é preciso demonstrar os benefícios, resultados e vantagens que o cliente terá ao lhe contratar. Identificar e listar com objetividade os ganhos após realizado o seu trabalho. Sua remuneração será então medida com um percentual de retorno sobre o investimento.
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Mais uma vez: antes de o cliente perceber o valor do seu trabalho, você é quem precisa entender sua proposta de valor. A dica é pensar em termos de resultados para o cliente, não em termos de atividades, horas-técnicas, deliverables, papelada ou dias trabalhados. 

terça-feira, 14 de julho de 2015

Primeira impressão?

Não sei se é a primeira impressão a que fica. Ao conviver e reiteradamente compartilhar experiências muitas vezes descobrimos uma amizade não suspeitada no primeiro contato.
Às vezes nos decepcionamos, é verdade. Embora muitas vezes, também, nos surpreendemos para melhor, quando descobrimos que a primeira impressão estava incorreta.
Quando julgamos o caráter num primeiro momento esperamos que a pessoa atue conforme nossa avaliação. O problema é que muitas vezes este preconceito nos deixa cegos para muitas marcas positivas do comportamento do outro. E, procurando encontrar aquilo que fantasiamos a respeito dele, ele acaba por mostrá-lo, afinal. Mesmo que não seja o caso, nós o interpretaremos assim. Tornamo-nos burros.
Não quero dizer que as impressões iniciais não servem para nada. Servem tanto quanto todas as impressões que temos. E assumir que a primeira é a que fica, é tolice intelectualóide; repete-se esta frase, só porque os livrinhos de auto-ajuda a preconizam.
Também pode ser uma grande desculpa. Um cômodo parecer definitivo, que exclui a necessidade de conviver e de verdade conhecer as gentes. É preguiça emocional. Diminui a capacidade de relação humana.
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Você fica com a primeira impressão? Neste caso, possivelmente vai perder a oportunidade de ficar amigo de pessoas maravilhosas, que não mostraram suas virtudes num primeiro contato. Destarte, você pode acabar se unindo a chatos e desconfiados que, obviamente, o julgaram também deste mesmo modo...

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Os dois olhos dos gatos

Do excelente livro de Patrick McKenna e Gerald Riskin, aonde o título "Pastoreando Gatos" (Herding Cats) reproduz a famosa metáfora da liderança nos serviços profissionais, extraio para reflexão uma frase: seu escritório não pode nunca ser algo que o líder não é*.
Podemos entender essa frase de duas maneiras. Ou o líder é uma parede, um limitante, uma assíntota que impede os demais de irem além, ou o líder é um espelho que ao se permitir ser algo, viabiliza que todos os demais também o sejam.
No primeiro caso, seria positivo ver esses limites como uma proteção, um círculo mágico que garanta, dentro dele, o máximo desempenho, a boa convivência, a integração à cultura do negócio. O aspecto negativo seria imaginar alguém que atrapalha, que impede que os demais profissionais se desenvolvam, cresça e realizem bons trabalhos.
No segundo caso, seria bom se o líder fosse um exemplo moral, ademais de um profissional de gabarito. Assim ele torna-se um modelo, um parâmetro de desempenho e comportamento. O seu lado ruim seria uma pessoa que influencia para o mau humor, a desmotivação e os conflitos.
Já vi gente assim, nos seus dois aspectos. É como se os gatos tivessem, nos seus dois olhos, a propriedade de libertar e proteger, simultaneamente. Porém, se forem maus felinos podem, ao revés, desmotivar e limitar (olhos fechados).
Para pastorear gatos, há que ser gato. O melhor deles, eu diria. Com os olhos bem abertos e luminosos, apoiando e ajudando os outros felinos a usarem sua criatividade, experiência, sagacidade e know-how. Um bom líder inspira, e todos gostam de trabalhar com ele.
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Você é sócio de um escritório? É gerente ou coordenador de equipe? É, talvez, um profissional de referência para seus colegas? Não importa o cargo, importa que se você quiser "pastorear gatos" precisa ser o melhor deles... com os dois olhos bem abertos.

*no original: your firm can never be something the leader is not.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

O bom (e invisível) profissional

Há um mito que todo profissional deveria assumir para si. É aquele do cavaleiro que salva a cidade de um dragão, resgata a princesa, ensina as virtudes, estimula a coragem, instiga a honra e, no fim... vai-se, para outra cidade. Não fica ali. Segue seu rumo para continuar ajudando os fracos e oprimidos.
A questão é que o bom profissional sempre tem quem ajudar. E se ele se confunde com o sucesso de uma empresa, corre o risco de esquecer sua saga. Deslumbrado, cede às suas paixões. Fica parado. Abandona seu destino.
Para evitar isso, há que se considerar um herói silencioso, invisível. Seu êxito é o êxito do cliente. Sua medida de sucesso é a realização alheia. Seus momentos de alegria, são os momentos de regozijo dos executivos e líderes para os quais trabalha.
Talvez o primeiro conselheiro da história tenha sido Mentor, o preceptor de Telêmaco, filho de Ulisses. Em verdade, Mentor era um disfarce da própria deusa Palas Athena, senhora da sabedoria. Mas ele, senhor de sua profissão, não se expõe. Fica invisível. Quem aparece na saga é seu discípulo.
Nos serviços profissionais a discrição não é só modéstia, mas parte da técnica. Para nossos serviços darem resultado, dependemos muito do cliente. Para usarmos nosso conhecimento com eficácia, temos de sumir do palco e apoiar o cliente no seu drama. Para agregarmos valor, é preciso não aparecer muito em cena, mas pôr nosso cliente no centro dos holofotes.
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Você é capaz de permanecer invisível assim?
Advogado, arquiteto, engenheiro, consultor ou qualquer que seja sua profissão, quando você atua, costuma se preocupar mais com a sua fama ou com a felicidade do seu cliente?
Lembre-se: antes mesmo que a cidade o aplauda, é hora de montar em seu cavalo branco e partir para outra missão. Fiel à sua saga.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

O Essencial

Excelente o livro de McKeown, traduzido para o Brasil como "Essencialismo - a disciplinada busca por menos". O cara volta ao fundamental tema do que é vital dentre o muito que é trivial. Palavras dele. E para você, o que é essencial?
O mundo de hoje oferece-nos tantas opções que as pessoas tendem a sentir-se ansiosas, como se fosse imperativo testar e provar todas elas. O mundo tem também uma saraivada frequente de opiniões sendo emitidas sem muita responsabilidade. Opções e opiniões: as duas coroas do contemporâneo.
Mas como eleger o que realmente fará a diferença. Como fazer menos para se dedicar ao mais importante? O autor de "Essencialismo" propõe refletir sobre em que podemos dar nossas melhor contribuição. Isso me lembra do conceito arcaico grego de Areté, a excelência da alma. Tornar-se excelente em algo é o que permite deixarmos nossa marca, fazermos algo de verdadeiramente importante.
Sem delongas, o que nos indica quando estamos fazendo e vivendo o essencial? Sentimos entusiasmo. Os dias, as horas e os minutos são plenos. O contrário, logo, indica que estamos presos às trivialidades e dispersos pela movimentação do cotidiano - muitas vezes, nestes casos, determinado pelos outros (clientes, chefe, colegas, familiares etc).
McKeown aponta a dura verdade: é uma fantasia achar que temos de fazer tudo, que não podemos dizer não para nada, que temos de assumir toda e qualquer atividade. Isso não é eficiente, é ineficiente.
Pitágoras, Platão, Sêneca (e o nosso contemporâneo Domenico De Masi), têm sugerido que precisamos ter tempo para a filosofia - refletir e viver em profundidade. Se nos espalhamos em milhares de direções, não sobra tempo, nem energia, para quase nada. E o tempo passa, inexorável, arrastando tudo...
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Um bom líder dá o melhor exemplo. E não só um exemplo técnico, de trabalho, de tarefas. Um exemplo de vida. Faça escolhas optando pelo que é essencial e ajude seu time a fazer o mesmo. Todos terão mais alegria. Terão também mais eficiência, mais produtividade. E mais tempo para a filosofia.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Desindustrialização + Profissionalização

Por um lado a economia brasileira vê sua problemática recessão e, já há alguns anos, escuta o clamor dos empresários do setor secundário pedindo ajuda ao governo contra a crescente desindustrialização. Por outro lado, não somente no Brasil, se vê um desenvolvimento constante dos escritórios profissionais - o setor terciário avança a ponto de que alguns chegam a falar numa economia "quaternária", de negócios totalmente baseados no conhecimento.
Seja como for, para os líderes que me lêem, saibam que simultaneamente à diminuição de oportunidades na indústria crescem as oportunidades nos serviços.
E o mundo dos serviços profissionais, onde eu atuo, representa em nosso país um fruto verde, pouco maduro, que requer muita apropriação de conteúdo e de técnicas gerenciais para o fortalecimento dos negócios, num sentido, e das pessoas, os próprios profissionais, em outro sentido. A empresa tem de ser lucrativa. Mas as pessoas que ali trabalham é que podem viabilizar isso. Especialmente num mundo intensivo em conhecimento, o capital intelectual é fator crítico de sucesso. E o papel dos líderes, dos bons líderes, deve ser considerado.
Qual o tamanho do setor de serviços no país? Mais de 70% do PIB. E deve crescer essa proporção por conta da desindustrialização. É efeito, desse ponto de vista, de um problema. Não seria oportuno olhar para o lado bom da história? Precisamos avançar na produtividade e na qualidade dos serviços e, fazendo isso, podemos vislumbrar sua importância aumentando e isso seria o ponto de vista positivo. Não pelas perdas da indústria, mas pelos ganhos dos escritórios! Essa é a bandeira que ergo e exponho aos líderes do pós-industrial!
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Se você trabalha em um escritório de advocacia, arquitetura, contabilidade, numa empresa de engenharia, software, ou numa agência de design ou de comunicação, pense em como sua liderança pode influenciar não somente os seus colegas e clientes, mas, no longo prazo, boa parte da economia brasileira.
Você acredita em livros, ou acredita só em máquinas? Bem, pelo menos acredite nas pessoas...

sexta-feira, 19 de junho de 2015

O medo como aliado

Como fui praticante de artes marciais durante 20 anos, o tema do medo sempre foi-me apresentado - em teoria e prática. Muitas vezes tentei vencer o medo com violência. E descobri que a violência é, ela própria, filha do medo. Ou da ganância. Mas, seja qual for seu pai ou sua mãe, a violência não é solução inteligente para nada. Ela se alimenta dela mesma e surge um círculo vicioso autofágico que acumula muitas dores... de todo tipo.
Agora sei dizer que se vence o medo com atividades. A ação consciente, que impede a violência, a detém, é a forma de agir do guerreiro que supera e domina seus medos. Se tiver que lutar, luta. Mas sempre com estilo, com modos de quem é soberano.
Que significa vencer o medo com a ação? Significa em primeiro lugar não parar diante dele. Significa insistir e não ficar preso à situação. Significa poder andar, apesar do frio na barriga. Significa avançar, inexorável, como Júlio César diante os milhares de gauleses; como Alexandre, indo tratar com os kshatryas; como Sócrates, que recuou sem dar às costas ao inimigo em Plateia.
Mas isso tudo é simbólico para nós... Na prática, trata-se de fazer as coisas que lhe estão à mão. Trata-se de ocupar-se de tudo que está ao seu alcance. Trata-se de não reclamar, mas atuar. Trata-se de controlar as emoções e progredir com gestos simples, pequenos até, mas sempre ousados. Afinal, estamos com medo!
Sem ele pode ser que fiquemos para sempre estagnados. Sem ele pode ser que sejamos lentos. Sem ele pode ser que a vida fique monótona. Sem ele pode ser que nem estejamos vivendo. Qual o real papel do medo em nossas vidas?
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O tolteca Don Juan ensinou à Castañeda que se vai à guerra com respeito ao inimigo, atento, convicto e com medo. Talvez o medo possa ser invertido em aliado. Se pudermos então adicionar ao medo que sentimos a devida atenção, respeito aos desafios, convicção e, sobretudo, ação, assim poderá ser. O medo como aliado.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

O que há no inverno?

No próximo solstício, quando chegarmos novamente à noite mais longa do ano, começaremos a viver em seguida o crescimento paulatino dos dias. No pináculo do frio, inicia-se a volta do calor. É como subir a uma montanha: ao chegar-se no cume, começa-se a descer... Mas o que há no inverno?
O inverno é frio - afora nos climas tropicais, claro - e esse aspecto nos leva ao simbolismo do calor interno. Frio fora, calor dentro. Por isso é uma estação tipicamente associada à introspecção. É bom para todos os líderes um momento de reflexão interior. Ver-se, na intimidade, para, deslocando o olhar da equipe e do trabalho, entender aonde podemos e devemos melhorar.
Encontrar o calor interno depende de voltar-se para dentro. Não pode temer. Coragem! Veja o que você tem dentro de si, pois, afinal, é isso que poderá oferecer aos seus liderados e colegas de trabalho. Na vida, precisamos oferecer o que temos de melhor, certo? Mas, antes, temos de saber o que é.
O inverno é também a estação da neve. Não em todos os países, mas há locais em que a neve aparece e mata o que lhe fica por debaixo. A grama morre. A neve queima.
Não seria também possível deixarmos morrer coisas em nós nesta estação? Não seria oportuno deixar passar, como página que se vira, coisas que não mais precisamos carregar?
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O desapego é dica do inverno

segunda-feira, 8 de junho de 2015

O que realmente importa

Lendo o excelente artigo da McKinsey, onde alguns executivos seniores falam sobre o que é e o que não é atemporal  na liderança, reafirmei minhas convicções sobre o que costumo ensinar a respeito da liderança em geral e da formação de líderes em especial.
Parece que o essencial para a formação de bons líderes está nas palavras de Platão e Confúcio tanto quanto em evidências contemporâneas da psicologia. Coisas como conhecer-se e controlar os próprios instintos, lidar com as próprias emoções e estar sempre alerta ao que acontece dentro de si mesmo é um dos fundamentos.
Também essencial é a capacidade de reunir as pessoas em torno de um ou mais objetivos e dirigir a energia do grupo para a ação. Nisso entram aquelas famosas habilidades de delegar, orientar, dar feedback, coordenar tarefas e etc. Isso muda com o tempo na medida em que as equipes que você lidera mudam e inclusive as funções e os cargos de chefia. No entanto, o poder geral de estabelecer e desenvolver relações humanas é também algo fundamental no líder - o de hoje e o de sempre.
Que o contexto se modifica? Sem dúvida, essa é a principal característica dessa "terceira esfera" da liderança. Onde se dá o fenômeno da liderança? Na empresa do século XXI ou nas trincheiras da Primeira Guerra? No clube esportivo ou num hospital de pronto emergência? Na Grécia do século IV a.c. ou em plena crise imobiliária nos EUA? O contexto está em constante mudança, sim. É o deleite de Heráclito. Mas tem coisas que são evidentemente atemporais na formação de bons líderes e é aí que Parmênides se deleita.
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Saiba que os bons líderes estão sempre se adaptando ao ambiente. Quando muda o contexto e o líder fica fixo na posição antiga, incapaz de se modificar, ele está dando mostras de que precisa melhorar sua concentração e sua capacidade de ver as coisas. E daí voltamos inexoravelmente ao que não muda... seu auto-exame. O atemporal da liderança não nega as mudanças do mundo, as inclui.
Então, Platão e Confúcio seguem sendo mestres da liderança. Mas só do que é atemporal. Ou seja, do que realmente importa.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Cativando a Musa

Sabe daquela história sobre inspiração e transpiração? Aquela que diz que em geral temos 99% de transpiração para obter o 1% de inspiração. Comigo é também um pouco assim. Não sei se acontece com todo mundo, mas parece que as Musas são seres discretos, tímidos até. Talvez nem gostem muito de ser interrompidas dos seus afazeres... Ou, ao menos, não de súbito.
É preciso, então, saber como entrar em contato com elas. A dica é que primeiro temos de dar, para depois receber. Vamos na sua direção primeiro, depois ela vem na nossa.
E devemos preparar o lugar para sua vinda também, como a um convidado especial. Cada qual com sua decoração. Minimalista, rococó, art noveau ou outro estilo arquitetônico; mas a Musa vai reparar na sua casa... E, claro, seja um anfitrião atencioso, para ela querer voltar.
A inspiração é uma oferta grandiosa demais para ser negligenciada. Vem numa proporção de um para noventa e nove. Recurso escasso que participa de uma economia simples, direta. Se a moeda de troca é a transpiração, todos podemos investir. É aplicar e obter retorno sobre este investimento.
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Cativando a musa ela se abre e torna-o um predileto dela. Contudo, primeiro temos de dar, depois receber. Ela quer, na sua moeda, foco, dedicação, esforço. Nós queremos, bem interesseiros, seu sussurro ao pé do ouvido.

terça-feira, 19 de maio de 2015

10 mil horas... (ou, de onde vem o seu suor?)

Quando Malcolm Gladwell tornou pública a ideia de que se pode adquirir maestria em qualquer disciplina após 10 mil horas de treinamento e experiência, surgiram outros opinando de que isso depende muito mais de talento, tendências, habilidades inatas; numa palavra, vocação. No caso de estar em sua vocação, tudo fica mais fácil. Sim, mas não.
O que Gladwell afirma, entendo, não implica necessariamente em poder atingir a maestria em qualquer coisa. Outrossim, é notório que todos os grandes gênios em suas respectivas artes dedicaram-se com total esforço no seu aperfeiçoamento. Demóstenes, Leonardo da Vinci, Mozart, Shakespeare, Jordan, Pelé, Federer... todos deram exemplo de maestria - e de muita disciplina e esforço.
O potencial que temos - e todos temos - é um quase sem fim de possibilidades. No entanto, ele não se manifesta ao acaso. Não se pode associar a paciência à preguiça...
Para tornar-se exímio em qualquer atividade, é preciso, sim, de paciência (10 mil horas demora em acumular). Mas tem de suar muito.
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Onde estão as suas 10 mil horas? Em que coisas você tem acumulado experiência, know-how, especialidade, competências? De onde vem o seu suor?

segunda-feira, 11 de maio de 2015

O Problema da Lucratividade

Serviços de alto valor agregado são naturalmente lucrativos. O que se cobra pelas horas de consultoria, aconselhamento, transmissão de conhecimento, assessoria na análise de investimentos, orientação para a tomada de decisões, suporte para implantação de sistemas, ajuda para projetos e outras atividades, são normalmente serviços bem remunerados se comparamos com o custo para sua realização. Num simples cálculo da receita total dividida pelos custos e despesas, vê-se que a relação percentual é normalmente maior que 50%, podendo chegar a muito mais que isso. Ou seja, a lucratividade não parece ser problema, mas solução.
Pensando sobre o assunto, sócios de escritórios de advocacia, arquitetura, contabilidade, empresas de engenharia, software e tecnologia, entre outros serviços profissionais, podem não ver o problema... É que é justamente o fato de serem negócios lucrativos que os leva a negligenciar  a gestão do lucro, por exemplo. Escritórios bem remunerados podem ser mal administrados e o dinheiro "sai pelo ralo", muitas vezes agradando, no curto prazo, os sócios, mas sacrificando o futuro.
Outra problemática surge da relação com os clientes que, muitas vezes, não entendem a relação de lucratividade e acham que estão pagando caro demais. Falta-lhes a visão do que significa valor, em detrimento da convencional percepção de horas trabalhadas e tarefas executadas. Os clientes precisam, logo, ser educados. Do contrário, podem sim sentir-se enganados.
Há ainda a dificuldade da compensação financeira dos profissionais. Como remunerar a equipe, sócios e associados, tendo em vista a alta lucratividade de nosso negócio? Como não ser injusto? Como dar as sócios o seu direito de retorno e manter os associados motivados e satisfeitos?
Outro ponto: sustentabilidade. O negócio precisa ser visto como um ser vivo que tem seus ciclos, suas fases de expansão, crise, introspecção, recuperação, renovação, desenvolvimento, etc. E para cada etapa da vida é necessária justa quantidade de energia - financiamento, em linguagem de business.
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Você, sócio de um escritório de serviços profissionais, intensivo em conhecimento e com alto valor agregado, já refletiu sobre os problemas da lucratividade?

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Ambicioso, não ganancioso

Este é o perfil de cliente que gosto de assessorar. Para mim, como consultor, fica difícil ajudar quem não tenha ousadia e determinação para crescer e desenvolver seu negócio. Na falta de ambição, de um claro anseio por avançar, vem a inércia, a passividade. Na verdade, eu nem tenho muito o que fazer nestes casos. Mas será que isso se aplica somente aos meus clientes?
Há muitas pessoas que têm receio de serem vistas como ambiciosas. Seja por que não são mesmo, seja por que acham que seria ruim para sua imagem. Talvez o problema seja de confundir a ambição com a ganância. O ambicioso que realizar coisas; o ganancioso quer coisas para si.
É muito chato lidar com gananciosos. São de uma fealdade de comportamento... Afastam de sua proximidade pessoas visionárias, pois como uma voragem que tudo engole, querem para si - e somente para si - tudo o que as cerca. E os visionários não aceitam ser engolidos. Assim, os gananciosos ficam às voltas de outros como eles. Todos gordos, gordos de egoísmo, engolindo-se a si mesmos. Tem uma similaridade da ganância com a gula, parece. Pecados capitais.
Seja como for, essa obsessão pode causar mal a muita gente. Eu não quero trabalhar com clientes gananciosos.
Já com os ambiciosos, quero proximidade. Me interessa estar junto com gente que quer criar, desenvolver, elaborar, inventar, realizar. Assim, juntos, podemos fazer o bem, promover a riqueza, o progresso, o avançar da ciência, dos negócios, das organizações, das pessoas, de tudo o mais. Essa é a vocação da liderança.
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Um bom líder deve sonhar, ter metas ousadas, querer constantes desafios. Sobressair-se. Conquistar cada vez mais algumas páginas para si na história. Entretanto, nessas páginas, é melhor que sua assinatura seja de um ambicioso, mas não ganancioso.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Você tem tido tempo para respirar?

Desde a década de 30, no século passado, estudiosos falam sobre o valor do conhecimento e a tendência do futuro do capitalismo. Há muitos anos, o famoso economista austríaco Hayek falava sobre a economia como sendo um fluxo de comunicação e aquisição de conhecimentos. Peter Drucker apresentava ao mundo empresarial suas idéias sobre o trabalhador do conhecimento. Somam-se os japoneses Nonaka e Takeuchi, com seu famoso livro sobre construção do conhecimento na empresa, o sociólogo Castells, o pesquisador de Harvard que fala sobre a sociedade pós-industrial, Daniel Bell, o futurólogo Alvin Toffler versando sobre a Terceira Onda e tantos outros...
Minha tese é que não só precisamos de atenção para este fato, mas precisamos de TEMPO também. Não é possível dedicar-se à produção de conhecimento sem termos o devido tempo para alocar nisso. Se nos limitamos a "fazer o operacional", tocando as atividades do dia-a-dia como máquinas, o fator humano da inteligência e a decorrente geração de idéias e soluções fica dificultada.
Você, líder do século XXI, protagonista de uma nova sociedade em uma nova economia, quanto tempo você consegue dedicar a pensar, além do fazer?
É certo que podemos pensar enquanto fazemos (como também podemos respirar enquanto caminhamos); entretanto, não fica evidente que nossa carga de trabalho e nossa pressa - grande terror das cidades contemporâneas - atrapalha bastante o exercício da reflexão, da abstração e da criatividade? Não é simples de perceber que precisamos, de vez em quando, parar para respirar melhor?
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Economize seu tempo por que estamos na economia do conhecimento. Tempo e conhecimento são ativos intangíveis fundamentais para os negócios. E são altamente voláteis, como o fogo e o próprio ar que respiramos. Você tem tido tempo para respirar?

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Uma espécie de clarividência

Ver no claro é fácil. Todo mundo enxerga aí e não tem nenhum charme. Um grande líder precisa aprender a ver aquilo que está oculto, disfarçado, escondido.
É famosa aquela história de que um bom negociado deve ser como um bom jogador de pocker. Mas o que que quero dizer aqui é um pouco mais ousado que isso. Um bom jogador ganha, enquanto outros perdem. Um grande líder precisa garantir a vitória de muita gente, não só dele.
Assumindo minha experiência com meus clientes de negócios intensivos em conhecimento, desenvolvi um método bem eficaz e que pode ajudar:
- Primeiro, precisamos tentar VER NO INVISÍVEL do próprio negócio. Como entender o que realmente temos para oferecer, o que sabemos e podemos fazer de valor, como identificar as oportunidades e como criar uma marca única?
- Além disso, um bom profissional deve ter a empatia suficiente para se colocar no lugar dos outros e VER COM OS OLHOS DO CLIENTE. Com isso será mais fácil interagirmos com ele e, veja só, ele vai poder até nos ajudar... E vai querer nos ajudar.
- Também é preciso que um líder consciente VEJA NO CORAÇÃO dos profissionais de sua equipe. Essa é a visão dos ocultos motores que os movem; é daí que vem a possibilidade de inspirá-los.
Vendo assim será possível diferenciar-se como um líder que tem uma faculdade a mais, além do normal, uma espécie de clarividência. E hoje em dia são poucos os paranormais...
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Teste esta tríplice estrutura para fortalecer sua liderança. Depois me conte suas constatações, pois há muita coisa que ainda não vejo e quero também ver. Também estou aprendendo, ora! A humildade é a base para desenvolver uma boa visão.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Descanso Apoteótico

Descansar é uma das melhores coisas da vida. Mas só se descansa após cansar. E o descanso é tão bom quanto bom foi o cansaço. Me explico...
Sabe quando chegamos em casa exaustos, cheio de satisfação pelo dever cumprido? É ou não é diferente do que chegar cansado sem nenhuma alegria? É que o dia pode ter sido chato, enfadonho, desgastante até. Mas quando ocorre de fazermos muitas coisas, num ritmo fluido e quase alucinante, movimentado e ainda assim harmônico, sentimos outra forma de cansaço. É o cansaço estóico, do guerreiro, cheio de heroísmo, pletórico de sentido. Gostamos dele. É quando nos sentimos ganhando tempo. É quando temos a vida nas mãos. Tornamo-nos donos de nós mesmos.
Você consegue se cansar assim?
Não importa que as outras pessoas não o entendam por isso, importa apenas que você se sinta bem com o seu cansaço. Como numa épica vida, feliz, podemos imaginar o poeta cantando `a Musa para relatar nossos feitos. É quando nos tornamos mito, para nós mesmos.
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Você pode cansar feito um herói que realiza a sua saga? Se sim, seu descanso será ainda mais prazeroso. Será apoteótico.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

"Sacrifique um Galo a Esculápio"

Essa é a última frase de Sócrates, após beber a cicuta, prestes a deixar o mundo dos vivos. Que significa isso?
Muitos pesquisadores, estudiosos, hermeneutas e historiadores tentaram e ainda tentam interpretar este pedido final do grande filósofo grego aos seus discípulos. Há muitas versões. Vou dar a minha.
A morte - como o mesmo Sócrates ensinava, de acordo aos escritos de Platão - não é um fim total. E após ser condenado pelos Atenienses a beber o veneno que lhe tiraria a vida do corpo, Sócrates continuou insistindo de que não abriria mão de suas convicções para escapar da morte. A vida dele foi, até o último suspiro, uma homenagem inteira ao que o ser humano pode fazer de melhor: lutar para ser quem é, conhecendo-se mais e mais, expressando suas possibilidades interiores no mundo, no dia-a-dia. Ele lutou na guerra quando teve de lutar, dialogou com as pessoas na ágora quando teve de dialogar. E nunca se furtou de dar o melhor de si, com coragem e pureza. Nunca deixou sua autenticidade. Sempre cultivou uma íntegra expressão de seu ser.
Belo exemplo para todos nós. Em especial, para quem quiser liderar outras pessoas em empresas e organizações onde o cotidiano pode tentar engolir a lucidez. Basta de submissão! O poder do indivíduo está em não aceitar suas dúvidas e sua ignorância como limites...
Viver é limpar-se de todas as máscaras e de todos os medos. A vida é honrada quando podemos enfrentar desafios e vencer provações, superar limitações. Vivemos de verdade quando aproveitamos o tempo para nos tornarmos quem realmente somos, podendo então oferecer ao mundo o que temos de melhor.
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Se você quer assumir sua vida como um líder consciente e voluntarioso, lembre de Sócrates. Faça a purificação de todas as suas fraquezas e debilidades. E ensine e ajude os seus liderados a fazerem-no também. A vida é oportunidade de cura dessa doença chamada por tantos nomes: medo, impotência, dúvida, etc. Vitória é limpar-se disso tudo. A vida de Sócrates ilustra essa possibilidade humana.
Esculápio era um antigo deus da cura. Possamos nós cultuar essa divindade também.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Estratégia para Serviços Profissionais

Os serviços profissionais - aqueles de alto valor agregado e intensivos em conhecimento - pedem uma adaptação para o uso dos conceitos e técnicas gerenciais convencionais. É preciso "pensar fora da caixa" da indústria de transformação, das fábricas e das máquinas; e pensar "dentro da caixa" de um novo contexto, onde a criatividade, o insight, a especialização, a experiência, entre outras coisas, são muito mais relevantes.
Para quem quer começar o seu negócio com estratégia: profissionais liberais, autônomos, freelancers, formandos ou recém chegados ao mercado de trabalho com um cartão de visitas na mão e um escritório (home office, claro). Para quem tem já um escritório consolidado, com uma certa carteira de clientes, com um faturamento crescente e com algum reconhecimento no mercado. Para quem já divide, com outros sócios, uma estrutura maior, com equipe de profissionais e larga experiência, com invejável carteira de clientes e com alto prestígio e recebendo constantes indicações.
Para todos vocês, a dica é a mesma. Considerar que há uma necessidade de trabalhar sobre 3 elementos fundamentais, os 3 Is: Intangibilidade, Interatividade e Inseparabilidade.
- Como nosso negócio lida com ativos intangíveis, precisamos tangibilizar isso numa clara mensagem para nossos clientes e para nós mesmos, isto é, definir a IDENTIDADE - quem você é, o que oferece, quais seus diferenciais, como seu conhecimento proporciona valor, qual o seu cliente ideal, quais são os segmentos em que deve atuar, etc.
- Como nossos serviços dependem sempre da interação com o cliente, precisamos educar e desenvolver um relacionamento de confiança para garantir IMPACTO - viabilizar ganhos e benefícios evidentes para gerar novos cases e conseguir indicações para mais clientes.
- Como nosso conhecimento é altamente especializado e inseparável das pessoas, para criar uma equipe de profissionais fiel precisamos de INSPIRAÇÃO - fazer com que aqueles que trabalham conosco, sócios ou associados, seniores ou trainees, estejam alinhados e falem a mesma língua, motivados por realizar o sonho do escritório (muito mais que ganhar dinheiro, deixar uma marca!).
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Os serviços profissionais no Brasil estão muito aquém do grau de maturidade de outros países, como EUA, Canadá e Europa em geral. Temos de mudar isso com estratégia.
Você,  jovem de 18 anos (ou mais, em geral...), Advogado, Arquiteto, Consultor, Engenheiro, Contador, Tecnólogo, Publicitário, Designer, Economista, Profissional de Software, una-se a esta causa. O Brasil precisa de você.