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segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Cada macaco no seu galho

Os negócios intensivos em conhecimento envolvem aqueles mais moderninhos, os serviços tecnológicos, bem como aqueles mais tradicionais, os serviços profissionais. Neste último caso, uma das provocações mais comuns é: o quão profissional é o seu escritório de serviços profissionais?
O fato de ter conhecimento técnico em uma determinada área (anos de formação acadêmica, experiência prática, criatividade, especialização etc.) não significa que você domine as disciplinas de estratégia e gestão do negócio. Óbvio? Nem sempre. Não raro, encontramos escritórios cuja característica é um potencial de desenvolvimento reprimido pelo seu próprio modelo de gestão e pela falta de uma estratégia clara de crescimento. As desculpas são variadas...
- Falta tempo para "pensar o negócio". Os sócios dedicam-se aos clientes e a tudo o mais, menos ao próprio escritório como um ser que demanda sua própria atenção.
- Falta foco. Os sócios têm várias ideias. São tantas, porém, que fica difícil priorizar e planejar as ações.
- Falta "fazer acontecer". Os sócios sabem o que precisam, já tomaram suas decisões. Mas, por algum motivo, não conseguem pôr em prática porque as urgências se sobrepõem as projetos estratégicos.
- Falta humildade. Os sócios não aceitam que, sendo especializados no seu negócio, deveriam contratar outros especializados em estratégia e gestão. (Neste caso, nós, consultores).
Se uma das características das organizações intensivas em conhecimento é o aprendizado, os sócios e demais líderes dos escritórios de serviços profissionais podem aprender a dar atenção e a devida importância a esses assuntos... Coerência básica: se quero ser valorizado pelo que sei, devo valorizar o que o outro sabe. Cada qual com sua especialidade, cada qual com o seu tema de trabalho. Enfim, cada macaco no seu galho.
Como diz Steven Pressfield em seu maravilho "Guerra da Arte": Um profissional contrata profissionais!
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Para quem acha que a metáfora do macaco pode ser inadequada para profissionais do conhecimento, eu concordo. Contudo, parece que para certas coisas até os macacos sabem mais do que o mais arrogante e prepotente dos humanos.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Desprendimento

O imperador Ashoka, no período Maurya da Índia, abriu mão de sua belicosidade e converteu-se ao budismo. São Francisco de Assis abriu mão de sua fortuna após retornar da Cruzada, e converteu-se ao cristianismo. Independente de religião, do que você é capaz de abrir mão?
Em primeiro lugar, para desapegar-se de algo há que tê-lo possuído previamente. Não existe concessão para coisas que não se tem. Todo indivíduo desprendido deixa para trás uma história de experiências e realizações que acumulou. Aquele que diz que não se importa, pode estar desdenhando. Aquele que diz que não precisa, pode estar com inveja.
Claro que existem realmente coisas que não nos chamam a atenção. Mas recomendo discernimento. Se você realmente quer conquistar algo, não há melhor remédio que se dedicar de corpo e alma e possuí-lo. A ambição não é má, o mal está na sua orientação. E até os maiores santos deram exemplo disso.
Em segundo lugar, podemos pensar sobre o que vem depois. Estou deixando isso de lado para fazer o quê? Estou "virando a página" para ir em direção ao quê? 
Talvez essa seja a principal dica para o desprendimento. Eu deixo para trás algo porque o que posso viver a seguir é muito melhor. É transcendência, não perda. Afinal, deixar uma coisa boa para ficar com outra pior é burrice.
E como saber se estou fazendo a coisa certa? Há um sentimento de leveza na escolha. O verdadeiro desprendimento nos deixa mais ágeis, mais rápidos. É como livrar-se de um peso que atrapalha na caminhada.
Por fim, simplesmente entregar-se para o novo, com curiosidade, coragem e alegria. Como diz Fernando Pessoa em seu poema "Praticando o Desapego": Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. 
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Assim como só podemos oferecer o que temos, da mesma forma, é impossível abrir mão daquilo que ainda não se possui. O desprendimento provém da superação da posse, não de sua fuga.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Vender conhecimento

Será que os negócios baseados em conhecimento vão de encontro à proposta dos filósofos gregos?
Sócrates tinha muito incômodo com os sofistas. Platão e Aristóteles também. Alguns acham que era pelo fato de cobrarem por suas aulas, mas a questão não era essa. O problema era a falta de compromisso que esses pseudo-sábios tinham com a verdade.
Já na Grécia antiga (e em Roma, no Egito, na China, na Índia, em todas as antigas civilizações) havia profissionais do conhecimento. Políticos, advogados, professores, arquitetos, escritores, inventores, artistas, estrategistas e empresários... Esses papéis já existiam naquelas economias preponderantemente agrárias. Continuaram existindo na era moderna, caracterizada pelas fábricas e impulsionada pela revolução industrial.
Hoje vivemos numa terceira onda em que a produção, a distribuição e o consumo de informação e de conhecimento marcam a atividade econômica.  Teriam os sofistas desejado então nossa sociedade contemporânea? Ou estariam eles muito expostos ao verdadeiro conhecimento e fugiriam dela?
Acho que os sofistas nunca deixaram de existir. Parece que estamos ainda cercados por intelectuais que pretendem saber de tudo, responder a quaisquer perguntas, vencer disputas e confrontar opiniões. Não são profissionais do conhecimento, são profissionais da opinião. Não buscam a sabedoria, buscam a idolatria. Não fazem discípulos, quando muito, fazem seguidores. Seu compromisso é com o seu próprio ganho; querem ganhar a todo custo e fazer os outros perderem. Seu regozijo está em mostrar erudição - normalmente inútil na vida prática. Podem ser famosos, mas não necessariamente suas vidas sejam exemplo moral. Pretensos gurus, maus conselheiros, autores de livros de auto-ajuda, palestrantes exibicionistas etc. Há toda uma gama de neo-sofistas na economia atual. Até oferecem conhecimento, mas não o entregam, pois não têm.
Como destacar-se da multidão e, sobretudo, como diferenciar-se desses pseudo-profissionais? Mantenha seu compromisso com a verdade. Dedique-se de coração a ajudar seus clientes. Faça o bem a cada um deles. Seja justo nas negociações. Realize belas obras. Deixe o mundo melhor. Ocupe-se mais com o que os outros recebem do que com os seus próprios ganhos.
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Vender conhecimento não é feio. Feio é cobrar por ele e não entregá-lo.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Diversidade

O tema da diversidade está mais do que na moda. Porém, normalmente este assunto é tratado “desde fora”, em infindáveis tipologias de gerações, gêneros, etnias, entre outros estereótipos.
Nos negócios intensivos em conhecimento o tema é ainda mais crítico. Nessa terceira onda da economia, sejam em serviços profissionais (mais tradicionais) ou nos serviços tecnológicos (mais recentes) temos de ver a coisa “desde dentro”. Não basta taxonomia, é preciso usar conhecimento mesmo.
Uma dica é começar a conhecer-se e buscar expressar-se em toda sua individualidade. Autenticidade é nossa força. O profissional do conhecimento anseio sempre por realizar um estilo de vida, mais do que ter uma fonte de renda.
Com relação aos outros, temos de exercer uma liderança que estimule a individualidade de cada um. Conhecer as pessoas e gerar um certo grau de intimidade, suficiente para podermos potencializar a força da equipe.
Quanto à empresa, um bom equilíbrio entre autonomia e regras é o melhor remédio. Temos de garantir que as pessoas estejam livres para usar seus maiores recursos (criatividade, conhecimento, inteligência) sem transgredir certos limites que poriam em risco a integridade da organização.
Resumindo: a melhor maneira de lidar com a diversidade nas organizações do conhecimento é promovê-la ao extremo! Chegar a conhecer cada pessoa como única, começando por nós mesmos, estimulando isso nos outros e sabendo que os limites são aqueles que preservam a identidade e a cultura da empresa.
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Nos NICs, diversidade não é problema, é solução.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Quebrando coisas

A palavra iconoclastia (destruição de ícones) deriva da história de Leo III, imperador de Constantinopla, quando em 725 ele quebrou as imagens de Cristo nos portões do seu palácio. Gesto altamente simbólico. Desafiou, àquela época, o poder da Igreja. Não poderíamos nós, hoje, desafiar o equivalente que nos oprime?
Parece que os antigos sábios toltecas se referiam ao mundo como uma descrição. Semelhante, talvez, ao conceito de maya dos hindus, que significa ilusão. Para esses filósofos de outrora, o mundo material não passa de uma espécie de holograma que se estrutura de acordo à consciência de cada indivíduo.
Gregory Berns, em seu livro “O Iconoclasta”, aponta três elementos para descrever aqueles que gostam de mudar paradigmas, quebrar preconceitos e padrões: percepção, resposta ao medo e inteligência social. No que tange ao primeiro deles, aponta pesquisas da neurociência como base para explicar que a realidade não é o conjunto de dados que nos chega pelos sentidos, mas como o cérebro interpreta esses dados e lhes dá significado. Segundo ele e seus colegas da neuroeconomia, há líderes que inovam e fazem história pela sua capacidade de ver o mundo de um modo diferente. Gregory acrescenta que é possível estimular essa atitude, e o modo mais eficiente seria “bombardear o cérebro com elementos que ele nunca encontrou antes. A novidade liberta o processo perceptivo das algemas da experiência passada e força o cérebro a fazer novas avaliações”. Daí que podemos cultivar nossa própria iconoclastia...
Se quisermos inovar, fazer as coisas diferentes, criar, produzir conteúdo original, propor ideias consistentes, oferecer algo de valor, enfim, precisamos de um coup d’oil (o golpe de vista de Napoleão) sobre a vida. Viaje, leia livros, conheça pessoas, cavalgue, dança, lute, toque um instrumento, cante, compre um cachorro, aprenda um novo idioma, tire fotos, pinte e borde. Derrube suas limitações mentais. Ficar preso aos hábitos e reclamações comuns podem acabar nos levando a perceber a vida assim mesmo: algo comum. E isso, então, será nossa realidade. Terrível.
O que sempre oprime o homem e que deve ser quebrado é a burrice, o medo, o preconceito, o egoísmo, a inércia. Todos inimigos internos. Para quebrar essas coisas, precisamos de coragem, sim. E, antes de mais nada, da coragem para buscar uma realidade diferente.
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Sejam os xamãs do antigo México, os brahmanes da Índia ou os neurocientistas das universidades norte-americanas, cada qual com sua linguagem, concordam que percepção é realidade. Mude sua percepção. De si mesmo, das coisas e do mundo. Seja o iconoclasta da sua vida!