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segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Desprendimento

O imperador Ashoka, no período Maurya da Índia, abriu mão de sua belicosidade e converteu-se ao budismo. São Francisco de Assis abriu mão de sua fortuna após retornar da Cruzada, e converteu-se ao cristianismo. Independente de religião, do que você é capaz de abrir mão?
Em primeiro lugar, para desapegar-se de algo há que tê-lo possuído previamente. Não existe concessão para coisas que não se tem. Todo indivíduo desprendido deixa para trás uma história de experiências e realizações que acumulou. Aquele que diz que não se importa, pode estar desdenhando. Aquele que diz que não precisa, pode estar com inveja.
Claro que existem realmente coisas que não nos chamam a atenção. Mas recomendo discernimento. Se você realmente quer conquistar algo, não há melhor remédio que se dedicar de corpo e alma e possuí-lo. A ambição não é má, o mal está na sua orientação. E até os maiores santos deram exemplo disso.
Em segundo lugar, podemos pensar sobre o que vem depois. Estou deixando isso de lado para fazer o quê? Estou "virando a página" para ir em direção ao quê? 
Talvez essa seja a principal dica para o desprendimento. Eu deixo para trás algo porque o que posso viver a seguir é muito melhor. É transcendência, não perda. Afinal, deixar uma coisa boa para ficar com outra pior é burrice.
E como saber se estou fazendo a coisa certa? Há um sentimento de leveza na escolha. O verdadeiro desprendimento nos deixa mais ágeis, mais rápidos. É como livrar-se de um peso que atrapalha na caminhada.
Por fim, simplesmente entregar-se para o novo, com curiosidade, coragem e alegria. Como diz Fernando Pessoa em seu poema "Praticando o Desapego": Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. 
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Assim como só podemos oferecer o que temos, da mesma forma, é impossível abrir mão daquilo que ainda não se possui. O desprendimento provém da superação da posse, não de sua fuga.

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