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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Samsara

Não sei quantas vezes a vida se repete. Nem pretendo enfocar o tema da palingenesia (ou reencarnação). Refiro-me aqui às voltas que a vida dá ao nos apresentar os mesmos problemas reiteradamente. Não só os problemas. As coisas em geral.  
Parece que as circunstâncias realmente precisam ser salvas, como queria Ortega. Pois a única possibilidade de sairmos deste retorno da história é superarando limites. E os limites estão todos eles dentro de nós. As limitações exteriores são projeção, são consequência. Tudo fruto de escolhas e do preço que pagamos por elas. Ou que não pagamos, negando, na prática, a escolha. E fazendo a roda girar de novo...
Até mesmo os lugares aonde estamos -com todas as suas características e pessoas que ali estão- são produto de nossas definições interiores. Minha visão de mundo, minha visão de mim mesmo; meus valores, meus princípios; minha vontade de ser e de viver; tudo é representação daquela Vontade que Schopenhauer intuiu do hinduísmo.
Samsara significa reencarnação. Mas também acho que corremos o risco de cair num ciclo inconsciente de idas e vindas nesta mesma vida. É um risco. E para libertar-se disso é preciso coragem para assumir cada novo patamar de vida e maturidade com responsabilidade e determinação. Do contrário encontra-se os mesmos problemas muitas e muitas vezes, como um cão caçando o rabo. Para livrar-se disso há que parar. Não é no fluxo inconsciente e mecânico que está a saída. Há que parar a roda e escolher um novo estágio.
Os hindus chamam Moksha (libertação) à superação da roda dos nascimentos. Podemos adaptar o termo para o que aponto aqui como uma conquista da própria vida, da atual, numa capacidade de dar passos efetivos que mudam de degrau, de patamar, de condição. 
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Fuja da mesmice! Não aceite que sua vida seja uma mera repetição de situações desconfortáveis e mórbidas. Se você não fizer isso, vai voltar a viver isso. Repetidas vezes. É a roda de samsara.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Não reagir

Depois de mais de vinte anos preso pelos brancos, Mandela chega à presidência e não reage à opressão que sofriam os negros na África do Sul, o Apartheid.
Martin Luther King, também negro, militante de uma causa contrária ao racismo nos Estados Unidos, mesmo sofrendo e vendo sofrer muitos de seus companheiros, não reagiu com violência. Ao contrário dos panteras negras e das ideias de Malcolm X.
Vaclav Havel, presidente da republica Tcheca após a queda do regime comunista, liderou a Revolução de Veludo protagonizando uma mudança sem derramamento de sangue. Não reagiu aos seus antigos inimigos da StB, embora muitas vezes tenha sido preso por eles.
Mandela era boxeador. Luther King não parecia frágil. Havel sobreviveu à StB.
Não reagir é bem diferente de submissão ou covardia.
Nas artes marciais aprendi que o mais difícil é atuar sempre consciente, nunca por medo ou por raiva. E na prática, muitas vezes, pude ver a vantagem de um lutador que não reage por impulso, por instinto. Ele normalmente vence, pois acaba dominando a situação. Seu adversário cai dentro de sua esfera de influência.
No final das contas, nosso único inimigo é a ignorância. Nunca o ser humano. Para liderar mudanças recomendo não deixar-se envolver, não se identificar com os problemas, não reagir. A ação consciente pressupõe liberdade e independência.
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Você reage?
Tente agir a partir de suas convicções com clareza e diplomacia. Sei que é difícil. Eu mesmo sou colérico e tenho de fazer esforço para superar meu temperamento. É sempre melhor. Para todos.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Hoje (e amanhã?)

Hoje estamos vivendo um cenário muito complicado. Alguns falam de uma Nova Guerra Fria. Outros, já, de uma possível Terceira Guerra. O mundo dói. Estamos vendo a tristeza e a desesperança ocupando mais e mais corações. A mente, aliás, já foi tomada.
Dura verdade dita por Barbara Kellerman: "...não sabemos criar bons líderes, nem deter ou, pelo menos, limitar maus líderes como fazíamos há 100 ou até mil anos atrás".
O mundo contemporâneo sofre em guerras e guerrilhas, dentro e fora. Refugiados fogem da guerra e encontram a neve, a fome, a discriminação. Nações são ameaçadas quando os recebem, pois podem haver terroristas entre eles. Também são ameaçadas se não os recebem, pois para onde irão?
A autoridade de Harvard em liderança, um dos nomes mais respeitados no mundo dentro deste tema, diz a verdade nua e crua - difícil de ser admitida: nossa crise mundial é uma consequência de nossa total incapacidade de formar líderes bons e capazes, éticos e eficientes. Ora, a solução está no verso da mesma frase. Se os líderes passarem a surgir, melhores e mais competentes, naturalmente o mundo vai se dirigir à paz.
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Hoje estamos sofrendo o efeito de uma educação fracassada. E amanhã? Se nos educarmos, a nós mesmos, sem ficar criticando "os outros" faremos parte da mudança sonhada. Isso também pode ocupar sua mente. E, quem sabe, também o seu coração.