Páginas

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Vender conhecimento

Será que os negócios baseados em conhecimento vão de encontro à proposta dos filósofos gregos?
Sócrates tinha muito incômodo com os sofistas. Platão e Aristóteles também. Alguns acham que era pelo fato de cobrarem por suas aulas, mas a questão não era essa. O problema era a falta de compromisso que esses pseudo-sábios tinham com a verdade.
Já na Grécia antiga (e em Roma, no Egito, na China, na Índia, em todas as antigas civilizações) havia profissionais do conhecimento. Políticos, advogados, professores, arquitetos, escritores, inventores, artistas, estrategistas e empresários... Esses papéis já existiam naquelas economias preponderantemente agrárias. Continuaram existindo na era moderna, caracterizada pelas fábricas e impulsionada pela revolução industrial.
Hoje vivemos numa terceira onda em que a produção, a distribuição e o consumo de informação e de conhecimento marcam a atividade econômica.  Teriam os sofistas desejado então nossa sociedade contemporânea? Ou estariam eles muito expostos ao verdadeiro conhecimento e fugiriam dela?
Acho que os sofistas nunca deixaram de existir. Parece que estamos ainda cercados por intelectuais que pretendem saber de tudo, responder a quaisquer perguntas, vencer disputas e confrontar opiniões. Não são profissionais do conhecimento, são profissionais da opinião. Não buscam a sabedoria, buscam a idolatria. Não fazem discípulos, quando muito, fazem seguidores. Seu compromisso é com o seu próprio ganho; querem ganhar a todo custo e fazer os outros perderem. Seu regozijo está em mostrar erudição - normalmente inútil na vida prática. Podem ser famosos, mas não necessariamente suas vidas sejam exemplo moral. Pretensos gurus, maus conselheiros, autores de livros de auto-ajuda, palestrantes exibicionistas etc. Há toda uma gama de neo-sofistas na economia atual. Até oferecem conhecimento, mas não o entregam, pois não têm.
Como destacar-se da multidão e, sobretudo, como diferenciar-se desses pseudo-profissionais? Mantenha seu compromisso com a verdade. Dedique-se de coração a ajudar seus clientes. Faça o bem a cada um deles. Seja justo nas negociações. Realize belas obras. Deixe o mundo melhor. Ocupe-se mais com o que os outros recebem do que com os seus próprios ganhos.
----
Vender conhecimento não é feio. Feio é cobrar por ele e não entregá-lo.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Diversidade

O tema da diversidade está mais do que na moda. Porém, normalmente este assunto é tratado “desde fora”, em infindáveis tipologias de gerações, gêneros, etnias, entre outros estereótipos.
Nos negócios intensivos em conhecimento o tema é ainda mais crítico. Nessa terceira onda da economia, sejam em serviços profissionais (mais tradicionais) ou nos serviços tecnológicos (mais recentes) temos de ver a coisa “desde dentro”. Não basta taxonomia, é preciso usar conhecimento mesmo.
Uma dica é começar a conhecer-se e buscar expressar-se em toda sua individualidade. Autenticidade é nossa força. O profissional do conhecimento anseio sempre por realizar um estilo de vida, mais do que ter uma fonte de renda.
Com relação aos outros, temos de exercer uma liderança que estimule a individualidade de cada um. Conhecer as pessoas e gerar um certo grau de intimidade, suficiente para podermos potencializar a força da equipe.
Quanto à empresa, um bom equilíbrio entre autonomia e regras é o melhor remédio. Temos de garantir que as pessoas estejam livres para usar seus maiores recursos (criatividade, conhecimento, inteligência) sem transgredir certos limites que poriam em risco a integridade da organização.
Resumindo: a melhor maneira de lidar com a diversidade nas organizações do conhecimento é promovê-la ao extremo! Chegar a conhecer cada pessoa como única, começando por nós mesmos, estimulando isso nos outros e sabendo que os limites são aqueles que preservam a identidade e a cultura da empresa.
----

Nos NICs, diversidade não é problema, é solução.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Quebrando coisas

A palavra iconoclastia (destruição de ícones) deriva da história de Leo III, imperador de Constantinopla, quando em 725 ele quebrou as imagens de Cristo nos portões do seu palácio. Gesto altamente simbólico. Desafiou, àquela época, o poder da Igreja. Não poderíamos nós, hoje, desafiar o equivalente que nos oprime?
Parece que os antigos sábios toltecas se referiam ao mundo como uma descrição. Semelhante, talvez, ao conceito de maya dos hindus, que significa ilusão. Para esses filósofos de outrora, o mundo material não passa de uma espécie de holograma que se estrutura de acordo à consciência de cada indivíduo.
Gregory Berns, em seu livro “O Iconoclasta”, aponta três elementos para descrever aqueles que gostam de mudar paradigmas, quebrar preconceitos e padrões: percepção, resposta ao medo e inteligência social. No que tange ao primeiro deles, aponta pesquisas da neurociência como base para explicar que a realidade não é o conjunto de dados que nos chega pelos sentidos, mas como o cérebro interpreta esses dados e lhes dá significado. Segundo ele e seus colegas da neuroeconomia, há líderes que inovam e fazem história pela sua capacidade de ver o mundo de um modo diferente. Gregory acrescenta que é possível estimular essa atitude, e o modo mais eficiente seria “bombardear o cérebro com elementos que ele nunca encontrou antes. A novidade liberta o processo perceptivo das algemas da experiência passada e força o cérebro a fazer novas avaliações”. Daí que podemos cultivar nossa própria iconoclastia...
Se quisermos inovar, fazer as coisas diferentes, criar, produzir conteúdo original, propor ideias consistentes, oferecer algo de valor, enfim, precisamos de um coup d’oil (o golpe de vista de Napoleão) sobre a vida. Viaje, leia livros, conheça pessoas, cavalgue, dança, lute, toque um instrumento, cante, compre um cachorro, aprenda um novo idioma, tire fotos, pinte e borde. Derrube suas limitações mentais. Ficar preso aos hábitos e reclamações comuns podem acabar nos levando a perceber a vida assim mesmo: algo comum. E isso, então, será nossa realidade. Terrível.
O que sempre oprime o homem e que deve ser quebrado é a burrice, o medo, o preconceito, o egoísmo, a inércia. Todos inimigos internos. Para quebrar essas coisas, precisamos de coragem, sim. E, antes de mais nada, da coragem para buscar uma realidade diferente.
----

Sejam os xamãs do antigo México, os brahmanes da Índia ou os neurocientistas das universidades norte-americanas, cada qual com sua linguagem, concordam que percepção é realidade. Mude sua percepção. De si mesmo, das coisas e do mundo. Seja o iconoclasta da sua vida!

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Uma causa maior

Uma vez perguntaram-me o porquê do meu engajamento com projetos culturais e educacionais, como voluntário. Respondi que tinha convicção de que era isso que tinha de fazer por um mundo melhor. Minha contribuição. Cada qual com a sua. Daí perguntaram-me qual a minha motivação por querer mudar o mundo: medo, medo de ser medíocre.
Já sei que os psicólogos vão indicar traços de narcisismo. Que importa? Depois de ler Plutarco e Pressfield,  Cranston e Stengal, e inspirar-se com Alexandre e com Leônidas, com Blavatksy e com Mandela, como alguém pode querer uma vida comum? Melhor temer a mediocridade que a grandeza.
Podemos, ademais, seguir numa linha menos Nietzchiana e mais Kantiana. (Não mencionei Schopenhauer de propósito, pois ele era budista). Aliás, Kant expressa em seu "Ideia de uma História Universal com Propósito Cosmopolita" que, mais cedo ou mais tarde, vamos aprender a convergir nossos interesses e chegar a expressar o pleno potencial da humanidade. Ora, se é cedo ou tarde, por que não cedo?! Viver com amor por uma grande ideia é suficiente para impedir toda e qualquer carência. Ao invés de pedir amor, podemos dar amor.
Às lideranças de todos os cantos, provoco: se o altruísmo e a generosidade não servem de motivação suficiente para você se dedicar a uma ideia humanitária? Leia a biografia de grandes líderes e filósofos. Vai ser difícil não buscar uma causa maior.
----
O mundo será um lugar maravilhoso e fraternal no futuro. Certo. E se assumirmos essa mesma atitude individualmente agora, já, hoje? Não seria o caso de anteciparmos a nossa vivência desse Ideal? De qualquer modo, há que ter coragem para viver com amor.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Dentro ou Fora da Cabeça

No contexto dos estudos sobre a economia pós-industrial convencionou-se classificar os Negócios Intensivos em Conhecimento (NICs) em dois grandes grupos: aqueles mais tradicionais, os chamados serviços profissionais (advocacia, arquitetura, engenharia etc.) e aqueles mais modernos, vinculados às novas tecnologias (software, biotecnologia, telemedicina etc.). Daí surgiu a dupla cujos acrônimos são P-KIBs* e T-KIBs**. Proponho uma nova visão sobre essa dupla, que não à modifica, mas aprofunda e alarga a discussão.
- No caso dos P-KIBs, os Professionals são os que detém o conhecimento e, mais do que isso, as relações com os clientes.
- Quanto aos T-KIBs, é a Technology que simboliza o valor do negócio. E sua relação com os clientes é um pouco mais distante e deveras fria.
Essa constatação implica que os NICs mais tradicionais são mais humanos que os modernos? Possivelmente sim. Contudo o que mais me interessa ressaltar é que desse entendimento surgem diferentes abordagens de estratégia e gestão.
É normal que os T-KIBs cristalizem os ativos intangíveis em "coisas", os artefatos da tecnologia. Podem ser linhas de software, chips, nanopartículas, código genético, e até máquinas e equipamentos. Tudo isso é produto humano, claro, mas vira mercadoria e com o tempo pode se tornar commodity. Se o objetivo for volume, pode ser uma boa escalar a produção.
Já os P-KIBs não absorvem essa ideia tão facilmente. Os próprios profissionais têm resistência em produtizar seus conhecimentos ou sistematizar suas práticas. Talvez por isso seja mais difícil replicar modelos de serviços e mais fácil protegê-los da commoditização. Preservar o valor dos serviços profissionais tem a ver com diferenciação e exclusividade.
Dessa análise pode derivar duas diferentes estratégias genéricas para os NICs. Quando se trata de negócios cujo intangível materializa-se em coisas, podemos conceber uma gestão que dependa menos das pessoas, talvez. Mas quando o intangível fica na cabeça delas, temos de pensar num modelo que as privilegie, sempre.
----
Se o conhecimento for mais intrínseco ou mais extrínseco às pessoas, você cataloga os negócios em um ou outro grupo, Professionals ou Technologicals. Mas, independente da sub-categoria, o segmento geral dos NICs terá crescente importância no século XXI, pois se o conhecimento está dentro ou fora da cabeça das pessoas, já não importa, ele será o protagonista da nova economia.

*P-KIBs = Professional Knowledge Intensive Businesses
**T-KIBs = Technological Knowledge Intensive Businesses