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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Primus inter pares

Liderar profissionais do conhecimento é um desafio complexo. Advogados, arquitetos, contadores, engenheiros, analistas de software e demais profissionais de TI, publicitários, médicos, educadores, entre tantos trabalhadores da moderna economia da informação, compõem grupos cuja liderança se estabelece muito além das nomenclaturas de cargo e organograma.
Há autores, como a inglesa Laura Empson, da Cass University, que fizeram estudos bem detalhados sobre como são as relações entre os profissionais em um escritório. Ela, com seu conceito de "constelação" sugere que há muitas "estrelas" envolvidas. E é assim mesmo, pois com ou sem arrogância, a verdade é que estes indivíduos ostentam competências super especializadas. São, portanto, as estrelas do negócio.
Já em Aligning the Stars, Tierney e Lorsch mostram essa inevitável condição, onde essas estrelas precisam estar alinhadas entre si, com os objetivos do escritório e as necessidades dos clientes. Não é fácil alinhar profissionais cuja criatividade, autonomia e auto-suficiência conformam suas principais qualidades...
Maister, o guru dos professional services em seu livro First Among Equals (primeiro entre iguais) dá uma dica fantástica: para liderar profissionais do conhecimento há que ser uma referência moral entre eles. Mais colegas do que subordinados, o líder influencia por ser um modelo a ser seguido e deve evitar utilizar o seu cargo de chefia (se é que o tenha) como argumento para coordenar a equipe.
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Extrapolando este assunto para a vida em sociedade, não seria bom se todos nós tentássemos ser um modelo moral e uma referência de princípios e de virtudes para nossos amigos, familiares e colegas? Ao invés de ostentar cargos, dinheiro, posses e objetos, poderíamos ostentar a bondade, a beleza interior e a fortaleza ética. Isso seria bem aceito, penso, entre as outras estrelas... Afinal, somos todos capazes de brilhar, todos temos um potencial especial. Que tal dar exemplo de que isso é possível?
Este é um desafio para você, líder: seja o primus inter pares.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Amador e profissional...

No excelente livro de Steven Pressfield, "Guerra da Arte", onde ele descreve a luta contra a resistência - a inércia, o medo, a preguiça - para que o sujeito conquiste o status de verdadeiro profissional, há uma passagem em em que Pressfield diz que um amador não ama o suficiente seu ofício. Profissionalizar-se-ia, se realmente tivesse a paixão toda...
A palavra amador indica aquele que ama, mas é certo que gostamos das coisas com maior ou menor intensidade, dependendo de muitos fatores. A motivação subjacente àquilo que nos dedicamos é por vezes suficiente para termos um hobby, mas menor que a necessária para levarmos tão à sério e querer fazer disso um trabalho total. Também temos de considerar que há situações em que o hobby vai crescendo em importância, até que se converte em atividade remunerada. Há ainda a possibilidade de permanecer sempre como uma forma de contra-ritmo do estressante cotidiano. Não vejo problema nisso.
O amadorismo pode também ser associado à incompetência, às vezes sendo utilizado para descrever uma atitude de negligência, falta de know-how ou qualquer tipo de limitação. Neste contexto, não é o que se pretende, imagino, nem mesmo para um hobby... Queremos fazer as coisas bem feitas, ainda mais quando fazemos por gosto, sem pressão ou cobrança alguma. A compulsoriedade atrapalha a qualidade. A livre vontade para escolher ao que se dedicar, viabiliza muitas coisas, como a criatividade, a experimentação, o aprendizado.
Mas é claro que os líderes devem profissionalizar-se em algo. Como poderia adquirir autoridade moral para influenciar, orientar, dirigir e coordenar pessoas sem esse status? Tem que ser sério, para ser exemplo, referência e portanto um modelo acessível para outros. Os liderados, os bons liderados, não seguem amadores.
Assim, antes mesmo de querer liderar e gerenciar times de trabalho, é fundamental conquistar esta condição pessoal de alguém que domina um assunto, que conhece certas coisas a fundo e que pode servir de referência para aqueles que querem aprender.
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Tornar-se um profissional exige tempo, experiência, estudo, reflexão, e um monte de outras coisas... Exige antes de mais nada, querer muito. E querer muito é o mesmo que amar muito. De amador, se converte em profissional.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Como lidar com a tristeza

Parece que o consumo de anti-depressivos dobrou nesta última década. E ainda que alguns pacientes tenham prescrição médica adequada para este tipo de droga, parece-me que vivemos um momento em que as pessoas não sabem lidar com suas emoções, sobretudo com a tristeza. Vejamos...
Há algum momento na história da humanidade em que o homem não tenha tido experiências de tristeza? É possível que alguém viva a vida sem sentir-se triste? Seria a tristeza algo de todo ruim, sem valor existencial ou sem utilidade para o desenvolvimento de nossas identidades? A tristeza deve ser sempre interpretada como oposto da felicidade? Ou seria, às vezes, um modo de reconhecer limites e defeitos e até uma forma de catarse e melhoria interior? Será possível indivíduos poderem viver sem resistência a momentos difíceis e, portanto, tristes? Não seriam as gerações atuais menos resilientes?
A sociedade contemporânea está doente, se estiver certo o dado de que quase 50% da população deveria ingerir anti-depressivos. E qual é o remédio para a doença? O anti-depressivo (solução paliativa) ou uma solução de causa, capaz de eliminar a necessidade da droga?
Para lidar com a tristeza talvez seja necessário um pouco da velha fortaleza interior, tão comum nos textos (e nas biografias) dos filósofos estóicos. Sêneca, falando sobre a brevidade da vida, a tranquilidade da alma, a felicidade, etc., é muito mais prático e muito mais belo do que as tarjas dos alopáticos modernos...
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Parafraseando o título de Lou Marinoff que diz "mais Platão e menos Prozac", não seria de sugerirmos "mais Sêneca e menos anti-depressivo"?
Os remédios são validados pelas universidades e pelos laboratórios? Sim, mas a filosofia perene é validade pelo tempo. Muito mais categórico.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Como dizia Píndaro...

O primeiro raio. Quando nasce o dia é o primeiro raio que faz romper as trevas. É a vontade. Supera as limitações da escuridão.
No homem, é sua virilidade. Uma força espiritual – que até se manifesta sexualmente – e toda inventiva, capaz de desfrutar dos meandros dos caminhos impossíveis. Faz possíveis os impossibilitados pela sorte sua, deveras calma, constante, sempre em frente, determinada, cortante. A vontade é força maior.
Desde os mestres antigos, pelos exemplos de Alexandre, César e Napoleão, passando por Schopenhauer e todo filósofo, poeta e místico que se queira como exemplo do triunfo, eis a verdade: é a vontade a soberana.
Como traduzi-la em conduta? Em primeiro lugar, atrevendo-se a ser quem se é. E para isso, há que se desprender do maior inimigo dela. Não é a inércia, posto que é um efeito secundário. Não é a hesitação, posto que é sua sombra. O maior inimigo é o medo. Ele deve ser atacado, violentado. Ele é o brasão inconteste do demônio que apaga a chance do primeiro raio levantar. Então, é contra ele que desferimos não o primeiro golpe, mas o golpe zero. Antes de tudo, morte ao medo! Serve-te inteiramente do teu próprio ser e vai em fundo, em profundo. Busca toda a natureza interior que é só tua. Não receia. És homem, e a maior conquista é saber-se único, original e exclusivo. Daí em diante, é mais descoberta. Mais aprendizado. Mas tudo advém daí. Vencer o medo é ver-se como se é.

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Dizia Píndaro, o poeta e guerreiro grego: torna-te quem és. 

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Liderança em serviços profissionais

Os chamados serviços profissionais - numa tradução livre do inglês "professional services" - se refere ao grupo integrado por advogados, engenheiros, arquitetos, contadores, profissionais de software, dentre outros tantos que usam de um conhecimento altamente especializado nas suas atividades. Daí que a interação com seus clientes é diferenciada, a percepção de valor de seu trabalho é pouco visível, a dificuldade em conquistar novos contratos é grande e a justificativa dos seus honorários pode ser um problema. O intangível é a principal característica deste contexto de liderança.
Assim, os líderes nestes ambientes intensivos em conhecimento precisam de uma preparação ainda mais especializada. Seus times de trabalho normalmente são muito autônomos, com bastante iniciativa e com desempenho proporcional, muitas vezes, à sua liberdade de atuação e expressão. A criatividade é fator cotidiano para a prestação dos serviços e o atendimento aos clientes requer habilidades de comunicação (oral e escrita) que muitas vezes não integra a maioria dos cursos de formação, muito técnicos, e pouco alinhados com a prática gerencial destes escritórios.
A dica inicial é buscar o entendimento dessas idiossincrasias e voltar a atenção dos gestores para a necessidade de desenvolver competências próprias da liderança neste contexto. Liderar profissionais do conhecimento não é o mesmo que supervisionar equipes de "chão de fábrica". Cada qual com suas particularidades, cada qual com seus desafios.
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A liderança em serviços profissionais será tema de uma palestra comigo ainda neste ano. Fique atento à fanpage do Liderata - Programa Aberto de Formação de Lideranças, para saber da programação.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Entrevista sobre filosofia...

Entrevista para o pessoal da RBS de Caxias do Sul.

É possível um mundo melhor?

Fiz palestras e participei de entrevistas sobre o tema, recentemente. E minha resposta para essa pergunta é sim. Mesmo aqueles (quais seus argumentos?!) que consideram o mundo atual uma maravilha, podem imaginar melhorias. E os que pensam que há uma série de problemas a serem resolvidos na contemporaneidade, dentre os quais eu me incluo, precisam ser convictos de que é possível mudar as coisas. O pessimismo de carteirinha não cabe se entendemos que a possibilidade de um mundo melhor jaz em cada indivíduo. Confúcio já ensinava que é questão de educar homens e mulheres justas para então termos uma sociedade justa. Quase trivial, não é mesmo? Mas decorre daí um compromisso prático, uma implicação moral para todo idealista de um mundo melhor: o que você está fazendo para se educar, para se melhorar?
A questão é que a resposta para a pergunta do título não é intelectual. É extremamente pragmática. Se consideramos que é possível um mundo diferente, temos de ser coerentes com essa possibilidade. E incorporar no próprio comportamento o que pretendemos responder.
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E, veja só: quando o fazemos, a resposta já não precisa ser falada. Ela é percebida pelas pessoas que conosco convivem, observando nossa conduta. Pois seremos algum tipo de modelo ou inspiração, como deve ser um bom líder, não?