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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Leading


A obra de Henry Mintzberg – catedrático canadense, autor de diversos livros sobre gestão – é mesmo uma obra prima. Na sua área de especialidade, a natureza da gestão e do exercício gerencial, é um dos melhores.
Uso muito do conteúdo desenvolvido (e publicado) por Mintzberg nas minhas conferências e seminários. Uma vez que o cara é um Phd muito famoso, facilita minhas argumentações... cito frequentemente  ele, quando quero sustentar um ponto sobre o dia-a-dia prático de um gestor numa empresa. Uma de suas obras é intitulada Managing, ou seja, “Gerenciando”.
Minha especialidade é o exercício da liderança. Muitas vezes – ou sempre, como querem alguns estudiosos – a gestão e a liderança andam juntas. Assim, como tomado de um oportunismo qualquer, para fazer uso novamente da referência deste magistral pesquisador, intitulei este artigo de Leading, ou “Liderando”.
A natureza da liderança é tão complexa que os antigos tratavam-na a partir de Mitos. Do grego, o termo mythos, refere-se a toda uma estrutura de conhecimento cuja base cognitiva é a intuição, não o raciocínio. Este modo é necessário para poder abarcar toda a mensagem e viabilizar a comunicação dentro do contexto deste tema. Mais ou menos como o moderno Edgar Morin denomina de pensamento complexo, ou como alguns antropólogos chamam o imaginário humano caracterizado pelo símbolo (como significado e significante) e como Jung chamou inconsciente coletivo (habitado por arquétipos), se vamos tratar da liderança quanto à sua essência e natureza prática, do abstrato ao concreto, teremos de lançar mão de uma linguagem não convencional para o racionalismo e o materialismo científico. Comte já morreu, mas os seus cultores estão por toda parte...
A liderança é um mistério em sua essência, é uma evidência bem empírica como fenômeno das relações humanas. Junte duas ou mais pessoas e, logo, com o tempo, aparecerá um líder. Ou muitos. Não importa. É próprio do ser humano, quando em grupo, manifestar a liderança. Pelo líder ou pelos seguidores? Já não importa. É um fato. Assim de simples.
Mas na sua essência a liderança toca em atributos extremamente inquietantes. Pois que alguns se assustam com o fato de que podem até mesmo nascer (destes atributos bem treinados) líderes malvados... Liderança negativa é o eufemismo usual.
Não acredito nisso, pois para mim – assim como para os antigos filósofos – um dos atributos essenciais das lideranças é o Bem. Como Platão, penso que o arquétipo-pai é o Bem. Longe dele, aparece o mal, como fruto simplório da ignorância. É que a sabedoria, seu oposto, é também atributo de um líder! Platão intitulou de aristos, o mais virtuoso, o seu Guardião-líder, na sua clássica República.
Simbolizemos então.
  • Um líder é um sol que brilha, da vida, vive transbordando de si a energia que vitaliza o seu grupo. Poético, não?
  • Um líder é a ponta da lança, que abre espaço que o corpo que a compõe. É sempre o primeiro e o que garante a passagem. Muito militar?
  • Um líder é Jasão, que reúne diversos heróis na sua Nau para fazer história, recuperando o Velo de Ouro e cumprindo com sua missão perante os deuses. Muito religioso?
  • Um líder é um sujeito que colapsa as ondas e as torna partículas, pela sua mirada, pela sua atitude, definindo um contexto a partir de sua presença. Quântico?
  • Um líder é um jardineiro, que não aparece na paisagem das flores, mas que é o garantidor da beleza e pureza do jardim. Muito sensível?
  • Um líder é um líder. Um cara de alto nível, que por DETERMINAÇÃO própria, numa condição impetuosa desprovida das opiniões alheias; por CARINHO e atenção às pessoas que deve proteger e comandar; INTELIGENTEMENTE encontra soluções, suas, dos outros, com os demais (também isso não importa) para seguir no caminho. Tem bom coração, é preparado e dá o exemplo. As pessoas o seguem, não precisa de muito uso da autoridade de seu cargo (embora legítima). Apóia-se na autoridade moral, criada por si mesmo, pela sua biografia, percebida pelos demais mediante a convivência com ele.
De todas estas definições – mais ou menos míticas e simbólicas – tenho certeza de que podes, leitor amigo, compreender que é um líder. E se não compreendeu ainda... Atenção, podes estar  perdendo a oportunidade de seguir um. E, quem sabe, de se tornar um.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Que é Liderança?


Liderança é capacidade, possibilidade e provação.

Hoje posso definir liderança como uma CAPACIDADE. A palavra capacidade encerra a possibilidade de expansão e também diz que ela precisa estar ali, de modo latente, antes de se desenvolver. É uma capacidade totalmente humana, pelo seu potencial de realização. Entretanto, é uma capacidade totalmente universal, pelos seus predicados. Vejam que em toda a natureza há hierarquia... há lideranças que naturalmente surgem em colméias, matilhas, átomos e sistemas solares. A natureza é organizada com elementos que se arranjam em torno de um eixo, de uma referência. Algo parece sempre estar em evidência como um líder: um elemento que se destaca por sacrificar-se pelo conjunto. Vai à frente, e os demais o seguem. A liderança é uma capacidade inata em cada canto do espaço; está latente para ser desperta e organizar esteticamente este local do espaço; do contrário, não haveria estética, seria tudo confuso, desarmônico e sem direção. A liderança é uma necessidade da natureza. Na natureza só há líderes e liderados!

No caso dos grupos humanos, gosto de ver a liderança também como uma POSSIBILIDADE de evidenciar o Bem. Apesar dos maus exemplos - que não perpetuam como tal, pois com o tempo carecem de seguidores - sabemos que os grandes líderes do passado legaram uma esperança e um modo de acreditar e perseguir a bondade. A liderança se torna a possibilidade que temos de nos afirmarmos como pessoas boas na medida em que seguimos exemplos (Jesus, Buda, Platão, Confúcio) e de ainda gerar mais seguidores quando é o caso de nos transformamos em líderes. Influenciamos e somos influenciados.

Além de capacidade que se expressa como estética, possibilidade de acreditar e esforçar-se pelo bem, a liderança também é PROVA de que os sonhos existem e ganham nascimento no mundo. Nem todos realizam coisas. Mas há os que realizam. E estes, atraindo os olhares admirados dos demais, confirmam, comprovam a veracidade do poder de realização. Por isso considero a liderança um exercício humano por excelência. O ser humano tem sim dentro de si o poder de se realizar. Mas há que provar que o faz. Não é intelectual. É fático. Ou não é.

CAPACIDADE que se mostra na beleza. POSSIBILIDADE que se mostra pelo bem dos atos e a esperança de um mundo melhor. PROVA que atesta a validade de tudo isso, em evidências de vida e biografias.

Quem não segue um líder, segue o que? Se não se é líder e liderado, é-se o que?