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segunda-feira, 25 de julho de 2016

Nem mesmo o céu.

Se bem que, geralmente, o crescimento é percebido em termos de tamanho e dimensões físicas, de um ponto de vista mais profundo, este não é o único critério.
Não podemos considerar a modificação anatômica (estrutural) preponderante em relação à mudança fisiológica (vital). Todo ser vivo cresce nas suas primeiras etapas de vida até alcançar um tamanho mais ou menos estável. Depois disso, sua evolução é menos perceptível aos olhos de quem observa de fora. Teríamos de ver o invisível, deduzindo o crescimento interior que muitas vezes demora a deixar seu rastro na matéria.
Em qualquer organismo, a riqueza da vida que ali se desenvolve determina especializações, qualidades e faculdades cada vez mais ricas e versáteis. Isso é assim para um indivíduo, bem como para uma organização.
Um negócio, sobretudo intensivo em conhecimento, não poderia ser avaliado só do ponto de vista estrutural. Nem uma estratégia de crescimento deveria estar pautada apenas nos números. A diretriz central deveria ser a missão e a visão de futuro, seus valores, sua proposta e a capacidade de inspirar os sócios, os profissionais e os clientes.
Ora, se para saber se estamos ou não crescendo não basta verificar nossa altura, nosso peso ou o tamanho da roupa indicado na etiqueta, para saber se nosso negócio cresce, tampouco vale analisar o tamanho da sala, o número de profissionais, ou mesmo o faturamento anual. Teríamos de avaliar se a sua identidade (sua essência e seu potencial) estão se expressando no dia a dia.  
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A pergunta é se podemos crescer indefinidamente. Acho que sim, quando entendemos por crescimento a realização do potencial, seja de uma pessoa ou de uma organização, creio que o limite não é nem mesmo o céu. Qual será?

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Simbolizo, logo sou saudável

Tive uma aula sobre Carl Jung com uma psicóloga há alguns dias atrás. Além de conhecer muito o tema, inspirou-me reflexões interessantes sobre a liderança.
Jung teve alguns anos de cooperação com Freud. Depois vem Adler, considerado o representante da segunda escola austríaca, sendo Freud a primeira. Viktor Frankl é dito fundador da terceira escola com sua logoterapia e seu maravilhoso livro "Em busca de sentido". Os estudos da psique evoluíram ao longo do século XX e hoje temos muitas opções de paradigma: desde o mais conservador psicanalítico, passando pelo mais pragmático americano ao estilo de William James, até as ousadas formulações da psicologia transpessoal. Porém...
Quem conhece um pouco das tradições clássicas (ou quem as conhece a fundo) sabe que muito dos avanços da ciência recuperam a sabedoria arcaica. Ou ao menos lhe dão validação. Aos desavisados, fica a dica: o progresso da ciência não significa necessariamente um distanciamento do passado, e sim uma aproximação do futuro, como ideal.
Como aprendi com minha amiga psicóloga, Jung ensina que nossa saúde psíquica depende da nossa capacidade de simbolizar. Damos significado às coisas à medida em que construímos dentro de nós - a partir de arquétipos coletivos ou não - um símbolo que representa o sentido das experiências vividas.
Aos líderes em geral: quando influenciamos outras pessoas estamos carregando seu arsenal simbólico com nosso exemplo. Se somos bons líderes, éticos e competentes, nossos liderados ganham a esperança de um mundo melhor. É um símbolo, mas os símbolos curam. Então sejamos responsáveis e tenhamos a convicção de que podemos fazer muito mais pelas pessoas do que apenas saber coordenar bem uma equipe de trabalho.
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Não somos tão racionais como parecemos ou como queremos ser. O imaginário é forte na nossa conduta individual e coletiva. A liderança se expressa também nessa dimensão. Embora um assunto complexo, é necessário considerar a repercussão que geramos ao liderar grupos humanos. Não é só saber delegar tarefas; estamos afetando as pessoas. Que sejamos símbolos de coisas boas então!

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Aos pedaços ou inteiro?

A integridade é uma virtude pouco compreendida. Muitas vezes utiliza-se o termo como sinônimo de honestidade, por exemplo. E, ainda que haja relação entre essas e outras virtudes, cada qual tem seu valor. 
Como a palavra mostra, íntegro é inteiro, completo, uno. Perdemos a integridade quando nos identificamos com as partes. E isso acontece usualmente sob pressão. É quando as situações difíceis nos “jogam” de um lado para o outro e deixamos de atuar desde nossa autêntica identidade. Passamos a responder às circunstâncias desde a periferia e não mais desde o centro do Ser.
Isso acarreta na oscilação do comportamento e em menos confiabilidade. As pessoas confiam menos nele e ele próprio confia menos em si. Surge muita incerteza...
Na liderança, a integridade é fundamental. Afinal, quem seguirá um líder que se desarticular e fragmenta constantemente? Ele assim se desautoriza. Corrói e corrompe sua capacidade de liderar. Impede, pois, que os seus liderados o compreendam e saibam o que fazer a cada momento. Torna-se tão mutável que deixa de ser uma referência para as pessoas.
Além disso, do ponto de vista individual, o líder se atrapalha em suas próprias ações. Sempre que, sob pressão, nos identificamos com os problemas e deixamos de ser quem somos, a probabilidade de solucioná-los decai. Sou sempre mais eficaz quando estou íntegro. Perco eficácia quando me fragmento.
Qual a dica para desenvolver integridade? Em primeiro lugar, conhecer-se a fundo. Em segundo lugar, expressar-se. Dar vazão à autêntica força que cada um tem em si. Daí surgirá um modelo de comportamento que será exemplo para quem o segue. E também servirá como modelo para si próprio, uma referência de integridade para si mesmo: uma imagem clara de quem somos de verdade.
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Já montou um quebra-cabeças? Percebeu que é impossível montá-lo só com as peças, sem a imagem da caixa? Sem uma imagem do todo, fica muito difícil compor as partes. Assim, sem uma noção de nossa autêntica natureza, vamos sempre ficar aos pedaços. E onde buscamos essa imagem completa? Dentro de si, só aí.


segunda-feira, 4 de julho de 2016

Ver as coisas como elas são

Subjetividade é um péssimo atributo para um líder. Impede-nos de ver as coisas como elas realmente são e daí, para cometer um erro, basta fazer qualquer coisa.
Um líder não tem o direito de fantasiar ou "viajar na maionese". Dele dependem as pessoas e o empreendimento como um todo. É uma questão de responsabilidade e compromisso. Por mais dura que seja a realidade, não podemos nos alienar ou nos omitir. Então, como cultivar a atitude correta? É questão de Andreia (não a mulher, mas a virtude).
Em grego, Andreia significa coragem, valor. Não é fácil, quase nunca, ser assertivo e firme.
Primeiro com as circunstâncias, analisando os fatos e procurando entender o que está sucedendo. E logo agir.
Segundo, com a equipe, com o máximo de empatia, colocando-se no lugar dos outros e tentando ver com seus olhos. E então conversar.
Terceiro, e o mais difícil, encarar a si mesmo e tomar consciência do que nos move no momento. E só então decidir.
Dizer que o líder tem que ter visão é jargão do meio corporativo. Mas qual visão? A certa, embora difícil, ou a errada, apesar de confortável?
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Não basta ver as coisas como elas são, também precisamos torná-las como queremos que sejam. Mas ambas as visões têm algo em comum: coragem.