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segunda-feira, 29 de junho de 2015

O bom (e invisível) profissional

Há um mito que todo profissional deveria assumir para si. É aquele do cavaleiro que salva a cidade de um dragão, resgata a princesa, ensina as virtudes, estimula a coragem, instiga a honra e, no fim... vai-se, para outra cidade. Não fica ali. Segue seu rumo para continuar ajudando os fracos e oprimidos.
A questão é que o bom profissional sempre tem quem ajudar. E se ele se confunde com o sucesso de uma empresa, corre o risco de esquecer sua saga. Deslumbrado, cede às suas paixões. Fica parado. Abandona seu destino.
Para evitar isso, há que se considerar um herói silencioso, invisível. Seu êxito é o êxito do cliente. Sua medida de sucesso é a realização alheia. Seus momentos de alegria, são os momentos de regozijo dos executivos e líderes para os quais trabalha.
Talvez o primeiro conselheiro da história tenha sido Mentor, o preceptor de Telêmaco, filho de Ulisses. Em verdade, Mentor era um disfarce da própria deusa Palas Athena, senhora da sabedoria. Mas ele, senhor de sua profissão, não se expõe. Fica invisível. Quem aparece na saga é seu discípulo.
Nos serviços profissionais a discrição não é só modéstia, mas parte da técnica. Para nossos serviços darem resultado, dependemos muito do cliente. Para usarmos nosso conhecimento com eficácia, temos de sumir do palco e apoiar o cliente no seu drama. Para agregarmos valor, é preciso não aparecer muito em cena, mas pôr nosso cliente no centro dos holofotes.
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Você é capaz de permanecer invisível assim?
Advogado, arquiteto, engenheiro, consultor ou qualquer que seja sua profissão, quando você atua, costuma se preocupar mais com a sua fama ou com a felicidade do seu cliente?
Lembre-se: antes mesmo que a cidade o aplauda, é hora de montar em seu cavalo branco e partir para outra missão. Fiel à sua saga.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

O Essencial

Excelente o livro de McKeown, traduzido para o Brasil como "Essencialismo - a disciplinada busca por menos". O cara volta ao fundamental tema do que é vital dentre o muito que é trivial. Palavras dele. E para você, o que é essencial?
O mundo de hoje oferece-nos tantas opções que as pessoas tendem a sentir-se ansiosas, como se fosse imperativo testar e provar todas elas. O mundo tem também uma saraivada frequente de opiniões sendo emitidas sem muita responsabilidade. Opções e opiniões: as duas coroas do contemporâneo.
Mas como eleger o que realmente fará a diferença. Como fazer menos para se dedicar ao mais importante? O autor de "Essencialismo" propõe refletir sobre em que podemos dar nossas melhor contribuição. Isso me lembra do conceito arcaico grego de Areté, a excelência da alma. Tornar-se excelente em algo é o que permite deixarmos nossa marca, fazermos algo de verdadeiramente importante.
Sem delongas, o que nos indica quando estamos fazendo e vivendo o essencial? Sentimos entusiasmo. Os dias, as horas e os minutos são plenos. O contrário, logo, indica que estamos presos às trivialidades e dispersos pela movimentação do cotidiano - muitas vezes, nestes casos, determinado pelos outros (clientes, chefe, colegas, familiares etc).
McKeown aponta a dura verdade: é uma fantasia achar que temos de fazer tudo, que não podemos dizer não para nada, que temos de assumir toda e qualquer atividade. Isso não é eficiente, é ineficiente.
Pitágoras, Platão, Sêneca (e o nosso contemporâneo Domenico De Masi), têm sugerido que precisamos ter tempo para a filosofia - refletir e viver em profundidade. Se nos espalhamos em milhares de direções, não sobra tempo, nem energia, para quase nada. E o tempo passa, inexorável, arrastando tudo...
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Um bom líder dá o melhor exemplo. E não só um exemplo técnico, de trabalho, de tarefas. Um exemplo de vida. Faça escolhas optando pelo que é essencial e ajude seu time a fazer o mesmo. Todos terão mais alegria. Terão também mais eficiência, mais produtividade. E mais tempo para a filosofia.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Desindustrialização + Profissionalização

Por um lado a economia brasileira vê sua problemática recessão e, já há alguns anos, escuta o clamor dos empresários do setor secundário pedindo ajuda ao governo contra a crescente desindustrialização. Por outro lado, não somente no Brasil, se vê um desenvolvimento constante dos escritórios profissionais - o setor terciário avança a ponto de que alguns chegam a falar numa economia "quaternária", de negócios totalmente baseados no conhecimento.
Seja como for, para os líderes que me lêem, saibam que simultaneamente à diminuição de oportunidades na indústria crescem as oportunidades nos serviços.
E o mundo dos serviços profissionais, onde eu atuo, representa em nosso país um fruto verde, pouco maduro, que requer muita apropriação de conteúdo e de técnicas gerenciais para o fortalecimento dos negócios, num sentido, e das pessoas, os próprios profissionais, em outro sentido. A empresa tem de ser lucrativa. Mas as pessoas que ali trabalham é que podem viabilizar isso. Especialmente num mundo intensivo em conhecimento, o capital intelectual é fator crítico de sucesso. E o papel dos líderes, dos bons líderes, deve ser considerado.
Qual o tamanho do setor de serviços no país? Mais de 70% do PIB. E deve crescer essa proporção por conta da desindustrialização. É efeito, desse ponto de vista, de um problema. Não seria oportuno olhar para o lado bom da história? Precisamos avançar na produtividade e na qualidade dos serviços e, fazendo isso, podemos vislumbrar sua importância aumentando e isso seria o ponto de vista positivo. Não pelas perdas da indústria, mas pelos ganhos dos escritórios! Essa é a bandeira que ergo e exponho aos líderes do pós-industrial!
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Se você trabalha em um escritório de advocacia, arquitetura, contabilidade, numa empresa de engenharia, software, ou numa agência de design ou de comunicação, pense em como sua liderança pode influenciar não somente os seus colegas e clientes, mas, no longo prazo, boa parte da economia brasileira.
Você acredita em livros, ou acredita só em máquinas? Bem, pelo menos acredite nas pessoas...

sexta-feira, 19 de junho de 2015

O medo como aliado

Como fui praticante de artes marciais durante 20 anos, o tema do medo sempre foi-me apresentado - em teoria e prática. Muitas vezes tentei vencer o medo com violência. E descobri que a violência é, ela própria, filha do medo. Ou da ganância. Mas, seja qual for seu pai ou sua mãe, a violência não é solução inteligente para nada. Ela se alimenta dela mesma e surge um círculo vicioso autofágico que acumula muitas dores... de todo tipo.
Agora sei dizer que se vence o medo com atividades. A ação consciente, que impede a violência, a detém, é a forma de agir do guerreiro que supera e domina seus medos. Se tiver que lutar, luta. Mas sempre com estilo, com modos de quem é soberano.
Que significa vencer o medo com a ação? Significa em primeiro lugar não parar diante dele. Significa insistir e não ficar preso à situação. Significa poder andar, apesar do frio na barriga. Significa avançar, inexorável, como Júlio César diante os milhares de gauleses; como Alexandre, indo tratar com os kshatryas; como Sócrates, que recuou sem dar às costas ao inimigo em Plateia.
Mas isso tudo é simbólico para nós... Na prática, trata-se de fazer as coisas que lhe estão à mão. Trata-se de ocupar-se de tudo que está ao seu alcance. Trata-se de não reclamar, mas atuar. Trata-se de controlar as emoções e progredir com gestos simples, pequenos até, mas sempre ousados. Afinal, estamos com medo!
Sem ele pode ser que fiquemos para sempre estagnados. Sem ele pode ser que sejamos lentos. Sem ele pode ser que a vida fique monótona. Sem ele pode ser que nem estejamos vivendo. Qual o real papel do medo em nossas vidas?
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O tolteca Don Juan ensinou à Castañeda que se vai à guerra com respeito ao inimigo, atento, convicto e com medo. Talvez o medo possa ser invertido em aliado. Se pudermos então adicionar ao medo que sentimos a devida atenção, respeito aos desafios, convicção e, sobretudo, ação, assim poderá ser. O medo como aliado.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

O que há no inverno?

No próximo solstício, quando chegarmos novamente à noite mais longa do ano, começaremos a viver em seguida o crescimento paulatino dos dias. No pináculo do frio, inicia-se a volta do calor. É como subir a uma montanha: ao chegar-se no cume, começa-se a descer... Mas o que há no inverno?
O inverno é frio - afora nos climas tropicais, claro - e esse aspecto nos leva ao simbolismo do calor interno. Frio fora, calor dentro. Por isso é uma estação tipicamente associada à introspecção. É bom para todos os líderes um momento de reflexão interior. Ver-se, na intimidade, para, deslocando o olhar da equipe e do trabalho, entender aonde podemos e devemos melhorar.
Encontrar o calor interno depende de voltar-se para dentro. Não pode temer. Coragem! Veja o que você tem dentro de si, pois, afinal, é isso que poderá oferecer aos seus liderados e colegas de trabalho. Na vida, precisamos oferecer o que temos de melhor, certo? Mas, antes, temos de saber o que é.
O inverno é também a estação da neve. Não em todos os países, mas há locais em que a neve aparece e mata o que lhe fica por debaixo. A grama morre. A neve queima.
Não seria também possível deixarmos morrer coisas em nós nesta estação? Não seria oportuno deixar passar, como página que se vira, coisas que não mais precisamos carregar?
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O desapego é dica do inverno

segunda-feira, 8 de junho de 2015

O que realmente importa

Lendo o excelente artigo da McKinsey, onde alguns executivos seniores falam sobre o que é e o que não é atemporal  na liderança, reafirmei minhas convicções sobre o que costumo ensinar a respeito da liderança em geral e da formação de líderes em especial.
Parece que o essencial para a formação de bons líderes está nas palavras de Platão e Confúcio tanto quanto em evidências contemporâneas da psicologia. Coisas como conhecer-se e controlar os próprios instintos, lidar com as próprias emoções e estar sempre alerta ao que acontece dentro de si mesmo é um dos fundamentos.
Também essencial é a capacidade de reunir as pessoas em torno de um ou mais objetivos e dirigir a energia do grupo para a ação. Nisso entram aquelas famosas habilidades de delegar, orientar, dar feedback, coordenar tarefas e etc. Isso muda com o tempo na medida em que as equipes que você lidera mudam e inclusive as funções e os cargos de chefia. No entanto, o poder geral de estabelecer e desenvolver relações humanas é também algo fundamental no líder - o de hoje e o de sempre.
Que o contexto se modifica? Sem dúvida, essa é a principal característica dessa "terceira esfera" da liderança. Onde se dá o fenômeno da liderança? Na empresa do século XXI ou nas trincheiras da Primeira Guerra? No clube esportivo ou num hospital de pronto emergência? Na Grécia do século IV a.c. ou em plena crise imobiliária nos EUA? O contexto está em constante mudança, sim. É o deleite de Heráclito. Mas tem coisas que são evidentemente atemporais na formação de bons líderes e é aí que Parmênides se deleita.
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Saiba que os bons líderes estão sempre se adaptando ao ambiente. Quando muda o contexto e o líder fica fixo na posição antiga, incapaz de se modificar, ele está dando mostras de que precisa melhorar sua concentração e sua capacidade de ver as coisas. E daí voltamos inexoravelmente ao que não muda... seu auto-exame. O atemporal da liderança não nega as mudanças do mundo, as inclui.
Então, Platão e Confúcio seguem sendo mestres da liderança. Mas só do que é atemporal. Ou seja, do que realmente importa.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Cativando a Musa

Sabe daquela história sobre inspiração e transpiração? Aquela que diz que em geral temos 99% de transpiração para obter o 1% de inspiração. Comigo é também um pouco assim. Não sei se acontece com todo mundo, mas parece que as Musas são seres discretos, tímidos até. Talvez nem gostem muito de ser interrompidas dos seus afazeres... Ou, ao menos, não de súbito.
É preciso, então, saber como entrar em contato com elas. A dica é que primeiro temos de dar, para depois receber. Vamos na sua direção primeiro, depois ela vem na nossa.
E devemos preparar o lugar para sua vinda também, como a um convidado especial. Cada qual com sua decoração. Minimalista, rococó, art noveau ou outro estilo arquitetônico; mas a Musa vai reparar na sua casa... E, claro, seja um anfitrião atencioso, para ela querer voltar.
A inspiração é uma oferta grandiosa demais para ser negligenciada. Vem numa proporção de um para noventa e nove. Recurso escasso que participa de uma economia simples, direta. Se a moeda de troca é a transpiração, todos podemos investir. É aplicar e obter retorno sobre este investimento.
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Cativando a musa ela se abre e torna-o um predileto dela. Contudo, primeiro temos de dar, depois receber. Ela quer, na sua moeda, foco, dedicação, esforço. Nós queremos, bem interesseiros, seu sussurro ao pé do ouvido.