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sexta-feira, 19 de junho de 2015

O medo como aliado

Como fui praticante de artes marciais durante 20 anos, o tema do medo sempre foi-me apresentado - em teoria e prática. Muitas vezes tentei vencer o medo com violência. E descobri que a violência é, ela própria, filha do medo. Ou da ganância. Mas, seja qual for seu pai ou sua mãe, a violência não é solução inteligente para nada. Ela se alimenta dela mesma e surge um círculo vicioso autofágico que acumula muitas dores... de todo tipo.
Agora sei dizer que se vence o medo com atividades. A ação consciente, que impede a violência, a detém, é a forma de agir do guerreiro que supera e domina seus medos. Se tiver que lutar, luta. Mas sempre com estilo, com modos de quem é soberano.
Que significa vencer o medo com a ação? Significa em primeiro lugar não parar diante dele. Significa insistir e não ficar preso à situação. Significa poder andar, apesar do frio na barriga. Significa avançar, inexorável, como Júlio César diante os milhares de gauleses; como Alexandre, indo tratar com os kshatryas; como Sócrates, que recuou sem dar às costas ao inimigo em Plateia.
Mas isso tudo é simbólico para nós... Na prática, trata-se de fazer as coisas que lhe estão à mão. Trata-se de ocupar-se de tudo que está ao seu alcance. Trata-se de não reclamar, mas atuar. Trata-se de controlar as emoções e progredir com gestos simples, pequenos até, mas sempre ousados. Afinal, estamos com medo!
Sem ele pode ser que fiquemos para sempre estagnados. Sem ele pode ser que sejamos lentos. Sem ele pode ser que a vida fique monótona. Sem ele pode ser que nem estejamos vivendo. Qual o real papel do medo em nossas vidas?
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O tolteca Don Juan ensinou à Castañeda que se vai à guerra com respeito ao inimigo, atento, convicto e com medo. Talvez o medo possa ser invertido em aliado. Se pudermos então adicionar ao medo que sentimos a devida atenção, respeito aos desafios, convicção e, sobretudo, ação, assim poderá ser. O medo como aliado.

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