Páginas

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Fim ou Renascença?

Barbara Kellerman fala do fim da liderança. Eu proponho a sua renascença.
Há, sem dúvida nenhuma, uma indústria que vende toda sorte de produto sob a égide da liderança. Há, outrossim, uma necessidade de formarmos mais bons líderes. Há, portanto, uma oportunidade para todo aquele que se comprometa com essa ideia.
O Renascimento Italiano, com foco em Florença, não foi espontâneo como às vezes se ensina no colégio. Nem foi somente o produto inconsciente de um convergir de forças sociais, mais ou menos cegas. E também receio que não podemos atribuir à peste bubônica o fim do pensamento medieval... Foram os seus líderes os responsáveis primeiros pela mudança histórica.
Gemistos, Cosme, Ficino, Pico, Boticcelli, Bruno etc. São tantos os nomes que Vasari se tornou o primeiro historiador da arte, listando dezenas de pintores, escultores, arquitetos, engenheiros. Houve muitos líderes na arte e também houve líderes políticos, cientistas, religiosos, banqueiros, escritores etc. Os líderes da Renascença!
Não seria o caso de nos convidarmos a uma mesma façanha? A despeito da tecnologia que hoje extravasa a nossa capacidade de consumo, o mundo atual parece, sim, meio medieval. Existem historiadores que falam disso. Eu falo da possibilidade de aproveitarmos essa situação para deixarmos a nossa marca. Líderes, vamos nessa. Enquanto uns falam de fim, aproveitemos a dica para falar de um recomeço.
----
Você pode ser medieval ou renascentista. Ambos contemporâneos. Nada coetâneos.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Ampliando limites

Os limites definem. Se um polígono não tivesse os seus, desenhando seu perímetro e forma, não teria identidade - um triângulo não seria um triângulo, um quadrado não seria um quadrado. Analogamente, um indivíduo se define pelos seus limites.
Há limites físicos, que evidenciam nossa anatomia. Há limites vitais, que estipulam nossa cadência. Há limites psicológicos, que circunscrevem nossa personalidade. E, claro, há os limites morais! Os mais importantes.
Limites morais não devem ser ultrapassados. Limites psicológicos, se forem, causam neuroses e outros tipos de transtorno (que os psicólogos expliquem). Limites energéticos e físicos podem ser movidos, com exercícios e boa alimentação; ou então, bem, a idade se encarregará disso.
Mas e as lideranças que buscam sempre ampliar limites? Podemos, sim, desenvolver o nosso potencial e aumentar nosso poder de influência. Como? Trata-se de expandir nossa capacidade de ir à frente dando bons exemplos, nossa capacidade de cativar pessoas e nossa inteligência executiva. Aí está o âmbito do desenvolvimento de melhores líderes. Fazendo assim, não os desfiguramos, não os corrompemos, não os tiramos a ideia original de autoridade para os seus liderados. O difícil será fazer isso com equilíbrio e harmonia. Do contrário, poderíamos gerar tiranos (só impetuosos), permissivos (só amiguinhos) ou chatos (só analíticos). 
Formar e desenvolver líderes não é fácil. Requer conhecimento, experiência, riscos também. Mas é necessário, pois a carência de bons líderes na sociedade atual está no limite... já quase a desfigurando.
----

Certo. Podemos expandir os limites de uma forma geométrica aumentando sua área sem tirar-lhe a ideia. Mas sempre preservando seus ângulos, mantendo suas proporções.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Megalopsychia

Magnânimo é um termo latino. Uma transliteração do "homem excelso" de Artistóteles, o Megalopsychicos. Um indivíduo honrado, generoso, capaz de contribuir com suas máximas virtudes. Uma precisa definição de um bom líder, não?
Pois recentemente estava lendo um paper do australiano Haig Patapan intitulado Magnanimous Leadership. E, novamente, vejo a fundamentação da liderança exemplar nos clássicos; neste caso, em Aristóteles. Patapan faz um paralelo dos conceitos aristotélicos com o estilo de liderança de Sir Edmund Barton, o primeiro primeiro-ministro da Austrália.
Barton foi juiz e representante político do movimento pela independência do país. Recusou três vezes o título de Sir, ao que por fim aceitou em 1902, já à frente do governo. Até mesmo os seus adversários reconheciam sua grandeza.*
Os mais grandiosos líderes da história chegaram a mover (e ainda movem) milhões de pessoas pela sua entrega e amor. Buda e Jesus são lugares-comuns neste tipo de discurso. Objetivos modestos não servem. Só grandes causas. Há que ser bem ambicioso sim.
Ambição pode ser mais que ambição. Se convertemos nossos interesses em reais interesses coletivos, em verdadeiras vantagens para o grupo (seja ele uma equipe de trabalho, uma organização, uma cidade ou uma nação), se nos entregamos à uma aventura maior de representar e defender o bem comum, passamos a tangenciar a magnanimidade. Claro que uma parte disso depende de alguns imponderáveis da história, aos quais ninguém consegue explicar. Mas para assumir grandes oportunidades, só indivíduos grandes de alma.
----
A grandiosidade pode ser epíteto de intenções megalômanas e vaidosas. Contudo, pode ser também atributo de ações benevolentes e inegoístas. Na verdade, não é tão difícil discernir. Basta ver os resultados da obra. Afinal, pelos frutos sereis reconhecidos, certo?
*Although we have always been politically opposed, there was one characteristic of Sir Edmund Barton which I recognized, and that was his generous nature and his extreme magnanimity’ (cited in Reynolds 1948, p. 189)

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Gestão de Serviços Profissionais

Os serviços profissionais - que vendem conhecimento - são vítimas quando geridos dentro do paradigma industrial. Nossos escritórios não são fábricas.
Para os advogados refletirem - questão de justiça: o recentemente popularizado "marketing jurídico" tem erros de fundamento. Aplicar os conceitos do marketing dos negócios convencionais aos negócios intensivos em conhecimento é injusto. Atrair clientes sem fazer publicidade é uma arte da estratégia, não da propaganda.
Para os arquitetos entenderem - questão de estética: a marca e a identidade visual só podem ser criados a partir de uma compreensão clara da identidade do escritório. Coisa que vem dos sócios, obviamente, mas que não se restringe a eles, como pessoas. O escritório é um ente à parte, independente, com seu próprio rosto e expressão.
Para os engenheiros mudarem - questão de matemática: desenvolver negócios é obra de disciplina e probabilidade. Não dá para pensar em vendas por impulso... É questão de ritmo e cálculo para prospectar e cultivar novos clientes.
Para pessoal de software e TI - questão de sistema: o principal é facilitar o trabalho do cliente, do usuário, de todas as pessoas que podem se beneficiar da tecnologia. A técnica não é um fim em si, mas um meio para ajudar pessoas. A questão é como mostrar que você pode acalmar o sistema nervoso do cliente.
Estratégia e gestão em serviços profissionais merece atenção diferenciada. Tem suas próprias leis, sua própria arte, sua própria ciência e seu próprio algoritmo. No Brasil temos muito a aprender ainda sobre isso. E a primeira coisa é adequar o paradigma para não perder o que temos de melhor: nosso conteúdo, nossas ideias, nossa criatividade e nosso raciocínio.
----
Em definitivo, por favor: nós não precisamos transformar nossos negócios intensivos em conhecimento em outra coisa. O charme do nosso business é o nosso business.

Modelo militar

Não cheguei a servir no exército. Embora hoje, penso, se voltasse atrás no tempo, não abriria mão dessa experiência. Escuto às vezes algumas críticas ao modelo militar e acho que estão equivocadas.
Dizem que a liderança militar só é própria dentro de um paradigma de guerra. Isso é falso. Na verdade, a maior parte da vida militar é na paz. Apesar de que preparam suas equipes para situações beligerantes, a grande parte da vivência nessa organização é antes da guerra e, para a maioria, sempre fora dela. Ainda assim, o exército funciona de modo eficiente e econômico há milênios. Se o tempo serve como teste, é uma organização que merece um olhar interessado de todo aquele que se pretende como um líder.
Talvez os maiores erros cometidos pelos militares - segundo podemos interpretar da história da humanidade - é após a guerra. Parece que são muito preparados para funcionar antes e durante os conflitos; no entanto, não são treinados para gerir o pós-guerra. Pesquise os casos relacionados no século atual, bem como no anterior. Fica fácil de constatar isso.
Também vemos os abusos das ditaduras militares como argumento contrário ao modelo militar. Mas são abusos. E também o é a aplicação de princípios marciais aos civis; isso é injusto.
Entretanto, acho que podemos "salvar" o tema quando recolhemos dele o melhor e a disciplina é a grande virtude do exército. Qualquer organização precisa de ordem, do contrário não poderá sequer ter essa denominação (organização sem ordem?). Descartados os exageros e as impertinências, parece que para todo líder a emblemática postura do militar pode sim ser uma referência.
Cada qual com seu uniforme. Mas os bons líderes têm uma inspiração guerreira... Desde os kshatryas da antiga Índia, passando pelos espartanos, os legionários romanos e os fuzileiros navais, quem pode duvidar da potência do modelo militar?
----
Vivi através das artes marciais um pouco dessa disciplina guerreira. Recomendo a todos. Pois ao contrário da violência imaginada pelas pessoas que não têm a experiência, as (verdadeiras) artes marciais ajudam a controlar, diminuir e eliminar a violência.
Liderança e disciplina andam juntas. Assim como líderes e liderados, compõem um mesmo fenômeno.