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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Meu medo

Meu maior medo sempre foi o de ser medíocre. Não me refiro à palavra no seu uso pejorativo -o que seria ainda mais apavorante- e sim no seu sentido stricto, isto é: estar na média, ser comum. O medíocre é aquele que não se destaca, que é morno, sem sal. É mais um no meio da multidão.
Interessante a indicação de Ortega y Gasset quando se refere ao fenômeno das multidões. Diz ele ser um fenômeno "visual". Ou seja, é empírico, é só andar no mundo e ver a que ponto chegou a massificação.
O homem-massa de Ortega é das melhores descrições que vi sobre os problemas do mundo atual. Parece que a cultura (ou anti-cultura?) contemporânea massificou ainda mais as pessoas. A falta de indivíduos, de homens autênticos, preocuparia Sócrates se vivesse hoje, pois teria de lidar com milhares que vivem sua vida sem exame.
Lembro-me também da magistral obra de José Ingenieros* que recomendo para todo mundo que não se identifica com a média.
Matematicamente a média é cálculo perigoso, pois não dá muitas informações sobre a população em estudo. É um dado limitado. Mas serve aqui para delinear aqueles que não querem se incomodar. Já viu este comentário alguma vez? "É que não quero me incomodar..." É uma das frases mais medíocres que já escutei.
Como qualificar a média? Acho que com três predicados é suficiente:
- Comum, este sim, no sentido bem pejorativo. Sem diferenciais. Sem identidade clara.
- Vulgar. Carente de honra e nobreza. Percebe-se no linguajar, nos modos e nos hábitos (e na música que se escuta).
- Egoísta. Só consegue se ocupar das suas coisas, no máximo das pessoas muito próximas. Não vê o mundo como algo muito maior do que o seu entorno.
Seria muito ousado pedir uma atitude épica contra a mediocridade? Que tal possamos ser mais originais, nobres e altruístas?
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Em tempo: este pedido é para quem está acima da média, ok? Os demais, por favor, não se ofendam. Não quis incomodar...
*El hombre mediocre. Leia o primeiro parágrafo e não vai poder evitar de ler o livro todo.

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