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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Saindo da caverna

A caverna da alegoria de Platão não é lugar físico. É feita de pensamentos e emoções, não de pedras. É um ambiente psíquico, turvo, nublado, aonde as pessoas nascem, vivem e morrem, segundo o mestre grego. A não ser que...
Um líder tem de assumir não somente sua responsabilidade operacional de coordenar seu time de trabalho delegando tarefas e supervisionando o desempenho. Isso é quase mecânico (não fosse, evidentemente, a complexidade que é isso na prática). É que o ser humano é muito mais que sua rotina de atividades e a liderança consciente deveria incluir outras dimensões de influência.
Muito se fala hoje sobre o valor da inovação e sobre como provocá-la. Estímulo à inovação, dizem os especialistas, requer quebra de paradigmas, pensar "fora da caixa", mudar esquemas mentais. Pois então, não seria pertinente que os líderes pudessem ajudar as pessoas a sairem desse aprisionamento que Platão denominou de caverna?
Vivo no meio dos serviços intensivos em conhecimento. Meu local de trabalho típico é o escritório profissional. Como consultor, esforço-me para liderar sempre para fora da caverna. Eis como se pode dar alguns passos nesse sentido:
1. Refletir, antes de pensar. Sim. Antes de mover o pensamento num acúmulo de raciocínios que sobrevem "de fora" (da faculdade, de jornais, da internet e de periódicos diversos), orientar primeiro a equipe de modo a que vejam "de dentro", isto é, que tenham a inteligência e a coragem para intuir e criar. Cada um usando sua inteligência antes de usar as notícias e teorias do momento.
2. Conduzir as reuniões com leveza e tranquilidade. Ousadia, sim. Mas a pressa e o estresse típico da "gestão por conflitos" só dispersa forças. Nunca vi um grupo produzir mais e mais rápido por atrito. A dialética dos materialistas não funciona melhor que a harmonia pitagórica... É música que queremos produzir na equipe, não barulho estridente. (E saibam que dá para escutar dos corredores!)
 3. Estimular cada profissional a dar sua contribuição individual e autêntica. É muito mais rico quando cada um é diferenciado do outro. Massificação dentro do escritório é oxímoro para qualquer negócio intensivo em conhecimento. Imaginar advogados, arquitetos, engenheiros, consultores, analistas conversando sem originalidade é ver todos no fundo da caverna, repetindo as sobras que veem.
4. Ensinar a escutar dando o exemplo. É fácil, mais do que se pode supor. Quando alguém fala, não pense: escute-o. Aproveite.
5. Todos juntos, no mais velho chavão do espírito de equipe, continuar em espirais rumo à saída da caverna, ou seja, avançar com persistência na busca de soluções como se isso fosse a própria fuga.
E a visão dessa prática gerencial é a criação de um ambiente verdadeiramente humano no trabalho. Profissionais são (pasmem!) bem humanos, no fundo. E alguém precisa liderar. Rumo ao que t
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Descrição da caverna: preconceitos e paradigmas rígidos. Burrice. Limitação de ideias e/ou aprisionamento aos modismos e tabus da sociedade. Atenção: não confunda com valores universais. Estes estão sempre fora da caverna, bem iluminados. Saindo da caverna dá para ver.

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